terça-feira, 26 de maio de 2009

Transgressão e construção da cidadania planetária

Transgressão e construção da cidadania planetária

por Lina Rosa

"Devemos ser militantes de uma nova civilização. Caso contrário, perderemos a perspectiva de transformação". A perspectiva de transgressão rumo a construção da cidadania planetária foi costurada por um trio de históricos e assíduos defensores do meio ambiente: a senadora Marina Silva, o teólogo Leonardo Boff e o educador Moacir Gadotti, que compuseram a mesa da Conferência I do Fórum Mundial de Educação, que aconteceu em 26 e 27, Belém (Pará). Antecedida por atividades culturais, contou com a participação da Banda Marcial e Fanfarra da Escola Estadual de Ensino Médio Visconde de Souza Franco, do Grupo, Clama e Declama e do Grupo de Tradição Folclórica Moara, este último, traduzindo o clima do momento, apresentou a música Canta Forte meu Pará.

Na sequência, autoridades locais e Salete Camba Valesan, do Conselho Internacional do FME, deram boas-vindas e agradeceram governos, órgãos públicos e segmentos da sociedade civil que contribuíram para a realização do Fórum.

Cada integrante desse trio, cada um a seu modo, propôs lúcidas e sadias transgressões em favor da causa ambiental com vistas a outro mundo possivel. Atentas, milhares de pessoas, maioria educadores e estudantes de diferentes países, aguardavam o inicio das exposições. "Viemos de diferentes lugares para reascender a esperança", anuncia Gadotti, que, primeiramente agradece o esforço e o empenho de todos que contribuíram para realização da sexta edição do FME.

Falou também da alegria de novamente estar se a juntando aqueles que lutam por uma educaçao de qualidade e por um mundo mais humano e justo. De pronto, trouxe o mestre Paulo Freire para mesa, lembrando suas recomendações: "Não viemos para ensinar, mas para aprender". Gadotti recorda que a construção da cidadania planetária constitui missão do Fórum Mundial de Educação e Fórum Social Mundial e que para tanto há necessidade de transgredir, correr riscos, que também são gestos pedagógicos. Lembrou que o livro Pedagogia da Autonomia de Freire poderia se chamar pedagogia da transgressão, pois é um convite a.

O FME, como parte da FSM, segundo ele, constitui um grande avanço do movimento social na América do Sul e, que, sem dúvida, vem consolidando as bases da nova globalização, expressão cunhada pelo geólogo Milton Santos. "O direito à Educação está associado a outros direitos. Ela vai bem quando a saúde, o transporte, etc, vão bem", enfatiza. Reconheceu que as conquistas ja alcançadas são frutos dos movimentos populares, Movimento de EJA, das Mulheres, dos Direitos Humanos e de muitos outros. Lembrou pessoas que nos antecederam ou estão na luta por uma vida digna, sustentável. Dentre elas, Ibsen de Souza Pinheiro, Thiago de Mello e Chico Mendes, este um mártir da floresta, cuja lembrança arrancou aplausos da platéia.

Parabenizando a todos que cuidam do legado de Paulo Freire, Leonardo Boff afirmou que estamos vivendo uma crise sistêmica global que coloca em xeque nossa civilização. "Se não buscarmos uma nova civilização a terra poderá continuar, mas sem nós. Nós, os humanos e outras espécies que habitam o planeta Terra, precisamos criar condições para que ele continue vivo e buscar soluções conjuntas para os problemas da humanidade. É necessário evitarmos bifurcações", adverte Boff. E continua: "Temos um destino comum. Se esta nova civilização não nascer, vamos nos extinguir de crise em crise". O teólogo, insistiu: "A crise nos força buscar alternativas que inclua todos os seres vivos". Boff enumera cinco princípios básicos que poderão guiar a nova civilização proposta:

- Sustentabilidade que permita a vida se expandir lembrando que "não queremos qualquer vida".

- Cuidado amoroso com a Terra: O que amamos, cuidamos. Razão intelectual mais razão do coração.

- Respeito, cada ser tem direito ao existir. Tolerância com o diferente.

- Responsabilidade com as coisas da Terra, com os outros e consigo mesmo. Responsabilidade pelo futuro do mundo.

- Cooperacão e solidariedade, o que certamente marcou um salto civilizatório: da animalidade para humanidade. "Os animais, ao contrario das pessoas, nao dividem seu prato".

Lembrando um texto bíblico, Boff reitera que precisamos de vida com qualidade e "vida em abundância".

A senadora Marina Silva começa sua exposição citando Edgar Moran "A mudança no princípio e apenas um desvio". Segue citando Thiago de Mello, que ao falar da necessidade de preservar o meio ambiente propõe "uma nova maneira de caminhar". Marina, de forma contundente, fala da urgência de salvar a vida na Terra. Salvar a Amazônia e seus povos, suas línguas, suas águas, suas espécies. "Difícil mesmo e defender o meio ambiente no ambiente da gente", acentua.

Falando da crise ambiental e da crise econômica mundial, Marina conclui: "Precisamos resolver as duas agora, subvertendo e transgredindo". Subverter e transgredir o que?, pergunta ela. Subverter e transgredir a lógica do mercado que nos induz a pensar que "ser feliz é ter mais". A nova lógica mostra que "ser feliz é ser mais". Assim, nova globalização indentifica e aponta o impasse entre os verbos ter e ser.

Falando também da importância da Cultura, que nunca deve ser dissociada das outras áreas, jamais da Educação, a senadora afirmou que não há nenhuma ação, ou prática, que não seja mediada pela Cultura. É necessário ensinar presente passado e futuro, lembrando que "tradição e a capacidade de colher na história anterior para resignificar o futuro".


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