segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sustentabilidade na Era do Pré-sal (Portal do meio Ambiente)

Sustentabilidade na Era do Pré-sal


Ivan Marcelo Neves é Secretário-Executivo do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento/FBOMS (www.fboms.org.br)

1352O petróleo é um líquido formado basicamente por hidrocarbonetos e poucos compostos e contém oxigênio, enxofre e nitrogênio. O petróleo e o gás estão geralmente confinados a grandes profundidades, tanto abaixo dos continentes como dos mares. Em geral, o petróleo esta disperso em cavidades e em fraturas de formações rochosas. O petróleo mais valioso, conhecido como leve, contém poucas impurezas de enxofre e grande quantidade de compostos orgânicos facilmente refináveis em gasolina. Quanto menor for a quantidade de enxofre, menor a quantidade de dióxido de enxofre (SO) lançado na atmosfera. O petróleo menos valioso é chamado de pesado. Esse tipo possui muitas impurezas e exige maiores recursos de refino para obtenção de gasolina.

Uma vez retirado do poço, o petróleo é enviado para as refinarias. Na refinaria, ele é aquecido e destilado para separar a gasolina, o óleo combustível, o óleo diesel e outros componentes. Os produtos petroquímicos são utilizados como matéria-prima em indústrias de produtos químicos, de fertilizantes, de pesticidas, de plásticos, de fibras sintéticas, de tintas, de remédios e de muitos outros produtos. Cerca de 3% do petróleo mundial é utilizado na indústria petroquímica.

As mega-reservas de petróleo descobertas na costa brasileira farão do nosso país uma das três maiores petrolíferas do mundo. Pré-sal é a denominação da faixa de petróleo considerado de alta qualidade que se localiza em uma área de 112 mil km² na costa marinha entre os estados do Espírito Santo e Santa Catarina abaixo de uma camada de sal, a cerca de 7000 metros de profundidade. O anuncio da descoberta das reservas do pré-sal em 2008 tem provocado grandes debates em todo o país. Muitos defendem novos modelos de regulação para preservar uma parte maior desta riqueza para o país, já que o marco legal vigente para a exploração de petróleo no Brasil ainda é lei nº 9478 de 1997. A Petrobras afirma já possuir tecnologia suficiente para extrair o óleo da camada. Um problema a ser enfrentado pelo país diz respeito ao ritmo de extração de petróleo e o destino desta riqueza. Se o Brasil extrair todo o petróleo muito rapidamente, este pode se esgotar em uma geração. Se o país se tornar um grande exportador de petróleo bruto, isto pode provocar a sobrevalorização do câmbio, dificultando as exportações e facilitando as importações. Hoje, mais de 80% do óleo brasileiro vêm do fundo do mar.

O petróleo ainda é a mais importante fonte de energia do planeta. A sociedade moderna é extremamente dependente do uso de petróleo, não apenas para a locomoção através de gasolina ou óleo diesel nos automóveis, assim como combustível de avião, mas também através do uso de derivados do petróleo em produtos de uso diário, principalmente plásticos e medicamentos. Para vários países, especialmente aqueles localizados no Oriente Médio, o petróleo é a principal fonte de renda. Por causa deste recurso estratégico, muitos países entravam e ainda entram em guerra. Quase todos os últimos conflitos armados passam pela busca do controle das reservas de petróleo. Desde o anúncio da existência da camada pré-sal, vários questionamentos têm sido feitos mundo a fora do nosso limite de autonomia além das 200 milhas da costa brasileira, principalmente pelos Estados Unidos. De fato, a existência de grandes reservas de petróleo, mesmo com alto custo atual de extração, coloca o Brasil em posição favorável no cenário geopolítico atual, garantindo uma auto-suficiência, ou seja, a produção necessária para garantir o consumo e contribuindo de forma significativa ao fortalecimento da soberania do país.

Com as reservas do pré-sal, as preocupações sobre o futuro do país também estão na pauta de vários setores da sociedade e principalmente das entidades que atuam na defesa socioambiental desse território e do planeta terra. Como justificar uma atividade econômica, em tempos de aquecimento global e mudanças climáticas cujos impactos já se manifestam nas várias regiões do país, que tenha alto potencial de contribuir ainda mais com o aumento da temperatura da terra? Enfrentar esta realidade será o grande desafio que teremos pela frente com relação às atividades do pré-sal. Inúmeros são os exemplos de como estamos aquém do almejado para lidar com as conseqüências que já estamos sofrendo com relação às mudanças climáticas no planeta, decorrente não apenas pelo uso de combustíveis fósseis, mas principalmente pela emissão de gases do efeito estufa oriundos do desmatamento e mudanças no uso do solo no bioma amazônico e demais biomas do país.

Uma sociedade sustentável é aquela que satisfaz as necessidades do ser humano sem diminuir as perspectivas das gerações futuras. Esse ideal é o oposto do ideal de crescimento material ilimitado, baseado em combustíveis fósseis. A sustentabilidade enfatiza a durabilidade e a permanência, um futuro garantido para um número razoável de seres humanos, em vez de um consumo e uma população sempre crescente. Nenhum de nossos sistemas correntes de produção básica de alimentos e mercadorias satisfaz esses critérios de sustentabilidade.

Para garantir a sustentabilidade de qualquer atividade econômica, do planejamento inicial até o consumo, a variável socioambiental tem que estar no centro das decisões. Mas, infelizmente, o Estado brasileiro ainda não esta preparado estruturalmente para enfrentar este desafio! Mesmo com uma legislação ambiental avançada, a realidade dos órgãos públicos de fiscalização ambiental quando existentes nos estados e municípios são de extrema precariedade. Não temos políticas de Estado para garantir o pleno atendimento das exigências legais para o exercício das atividades produtivas. Pior, estamos assistindo a um desmonte da legislação ambiental brasileira e uma ausência de um debate sério na sociedade para re-orientar os atuais padrões de produção e consumo. As atuais políticas e programas governamentais ignoram até mesmo os compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas. Assim, o Plano Decenal de Energia (2008-2017), lançado pelo Ministério de Minas e Energia sem respeitar, aliás, um processo de consulta público verdadeiro, prevê a construção de grande número de termelétricas com um considerável aumento de CO2 na atmosfera.

É fundamental que se implementem propostas ambiciosas, principalmente provenientes da sociedade civil, com relação à promoção de energias renováveis e sustentáveis e o aumento da eficiência energética. Mas estas medidas por si só não serão capazes de promover as transformações econômicas e sociais necessárias na sociedade, se não forem vinculadas a um debate sério, amplo, profundo e inclusive sobre o modelo econômico e o modelo de desenvolvimento que queremos para o nosso país e o planeta.

Estamos, de fato, diante do enorme desafio de garantir prosperidade para toda a população brasileira, que passa pela tarefa de sanar as mazelas sociais e ambientais geradas e herdadas durante cinco séculos de história. A visão prospera no campo teórico é bastante positiva para o país, mas a visão sobre o passado e o presente nós obrigam a não cometermos os mesmos erros e equívocos da ação predatória e excludente com relação aos recursos naturais e à distribuição das riquezas geradas neste país e entregues, até então, sempre a uma minoria que ficou com o lucro! Um olhar sistêmico é a melhor direção desta discussão, para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento econômico e social na era do pré-sal.

Pré-sal enfrenta problemas de produção... (Ecoturismo - Folha de São Paulo)

Anunciado como a “porta do futuro brasileiro”, o petróleo do pré-sal será motivo de festa nacionalista hoje em Brasília, mas os testes no campo de Tupi mostram que ainda não estão totalmente superados os desafios tecnológicos para explorar a nova riqueza.

A produção no bloco de Tupi, na camada pré-sal, ficou abaixo dos 15 mil barris de petróleo que a Petrobras esperava extrair por dia durante o teste de longa duração iniciado em 1º de maio e interrompido em 6 de julho por problemas técnicos.

Segundo dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo), a produção do campo Tupi em maio chegou a 23.883 barris de óleo, o que dá uma média de 796 barris de petróleo extraídos por dia. Já em junho, a produção mensal atingiu 413.819 barris, ou 13.794 diários.

Na média, a produção em Tupi nos dois meses ficou em cerca de 7.300 barris. A expectativa é que, no auge da produção, em 2020, a produção diária de petróleo apenas no bloco de Tupi chegue a 1 milhão de barris. Isso equivale a metade do que a Petrobras produz hoje.

Segundo o geólogo Wagner Freire, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo, a irregularidade na produção é aceitável em uma fase como esta, de teste. Para ele, preocupante foi o fato de o teste ter sido interrompido por problemas no equipamento que fica no fundo do mar.

“A Petrobras está acostumada à profundidade de 2.000 metros, que é onde fica esse equipamento. Não deveria ter ocorrido uma corrosão. Um projeto como esse requer um controle de qualidade muito apurado”, disse. Para o consultor em energia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a produção de Tupi abaixo do esperado evidencia os riscos de explorar petróleo no pré-sal, que o governo considera baixo. “É mais uma amostra de que o governo e a Petrobras têm muito pouco conhecimento do que é o pré-sal. A cada dia, a tese do risco zero vai mais para o buraco.”

Outros blocos
A extração do primeiro pré-sal de Tupi foi marcada por uma cerimônia no Rio com a presença do presidente Lula. Durante a cerimônia, um pequeno barril transparente contendo petróleo passou pelas mãos de várias pessoas, entre funcionários, atletas e artistas, até chegar às mãos das autoridades que estavam no palco. A Petrobras estima as reservas no campo de Tupi entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris, praticamente a metade das atuais do país, de 14 bilhões de barris.

Além do ritmo irregular, prejudicou a produção de Tupi em maio a decisão de interromper a produção dias depois da festa. A empresa afirmou, em nota, ter aproveitado uma sonda que estava na região para aprofundar a perfuração no poço e pesquisar onde já jorrava petróleo, “durante grande parte do mês”. A Petrobras disse que “reitera que a capacidade de produção em Tupi é superior a 15 mil barris por dia” e que “o objetivo do teste não é maximizar produção, mas analisar o comportamento dos reservatórios para se conhecer melhor o pré-sal”.

Além de Tupi, já em teste, a Petrobras explora outros nove blocos no pré-sal. Dos dez, é sócia de petroleiras estrangeiras em nove. Como mostram os dados, o dia da festa do pré-sal não foi o dia em que a válvula foi inicialmente aberta em Tupi. O poço perfurado jorrou 169 mil barris de petróleo em abril. Segundo a Petrobras, o teste de longa duração deverá ser retomado em setembro.

Valdo Cruz e Samantha Lima
Folha de São Paulo

Pré-sal ou pré-escola?

Pré-sal ou pré-escola?


Cristovam Buarque

Diversos recursos econômicos do Brasil foram apresentados, cada um à sua época, como o caminho para o progresso nacional e a emancipação pessoal dos brasileiros: o açúcar, o ouro, o café, a borracha, a indústria. Em todos esse momentos, o futuro do País foi prometido como o resultado de uma atividade econômica central. Agora surgiu o pré-sal.

O açúcar gerou riqueza, mas não emancipou o povo do Nordeste, nem deixou o país mais civilizado. O ouro serviu mais para embelezar Portugal e enriquecer a Inglaterra do que para desenvolver o Brasil. A industrialização fez do Brasil uma potência econômica, mas ao custo de uma sociedade campeã em violência e desigualdade.

Com o pré-sal não será diferente. Depois de gastar centenas de bilhões, aproveitando toda a reserva a um preço satisfatório do petróleo, o resultado final será igual ao dos anteriores. Terá apenas duas diferenças: o custo financeiro será muito maior, sacrificando o presente; e os impactos ecológicos muito maiores, sacrificando o futuro. Como o ouro acabou, o petróleo do pré-sal acabará. Ou será substituído, como foi a borracha.

Outra vez, prisioneiro da economia baseada em recursos naturais, o Brasil não percebe que a saída está em se transformar em produtor de conhecimento: ciência, tecnologia, cultura. O único recurso capaz de superar dificuldades, substituir obsolescências e dinamizar a economia é o conhecimento: capaz de explorar o pré-sal, e mais – de inventar substitutos para o petróleo.

E para ter ciência e tecnologia, é preciso investir na pré-escola de todas as crianças. Por isso, no longo prazo, a pré-escola é mais importante do que o pré-sal.

Lamentavelmente, essa não é visão da nossa sociedade. Um clássico da literatura de esquerda diz que o subdesenvolvimento da América Latina foi provocado pelas “veias abertas” que provocaram a sangria dos recursos naturais de nosso continente. Na verdade, o atraso decorre do abandono da educação de nossas populações e a resultante impossibilidade de construir uma forte infra-estrutura científica e tecnológica. Mais do que as “veias abertas”, foi o “abandono dos cérebros” que atrasou o continente. Se, ao longo dos séculos, o Brasil tivesse perdido seu patrimônio natural mas investido na educação de seu povo, hoje, na época da economia do conhecimento, estaríamos na linha de frente do desenvolvimento econômico.

Finalmente, diversos projetos têm surgido visando à vinculação dos royalties do petróleo com investimentos na educação. O presidente da República também de apropriou da ideia de que parte dos recursos do pré-sal seja canalizada para financiar a educação. No entanto, o risco é que, de novo, os investimentos na educação sejam adiados para um futuro distante. E quando o pré-sal começar a dar resultado, o Brasil tenha perdido mais uma geração e o pré-sal se torne outra ilusão, adiando a revolução de que o Brasil tanto precisa. Além disso, de pouco servirá investir em educação daqui a alguns anos se, até lá, não tivermos cuidado das crianças que estão em idade pré-escolar hoje.

O Brasil não pode nem precisa esperar o pré-sal para investir nas suas crianças. Não pode porque o futuro estará na economia do conhecimento, não na exportação petrolífera. Não precisa, porque já dispõe dos recursos necessários. Vincular a revolução educacional à hipotética e futura exploração da reserva do pré-sal é um suicídio nacional.

“Adotar” todas as crianças em idade pré-escolar – com tudo o que for preciso para iniciar o desenvolvimento intelectual das futuras gerações – custará, no máximo, R$15,5 bilhões por ano, o equivalente 1% do que será gasto com o PAC, o pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, caso o Rio de Janeiro seja a cidade escolhida. Mas para fazer o PAC, a Copa e as Olimpíadas, ninguém propõe esperar o pré-sal.

A pré-escola é mais importante, construtiva, viável, ética, barata e sustentável do que o pré-sal. Entre pré-escola e pré-sal, três letras a mais fazem uma radical diferença no futuro do País.

*Cristovam Buarque é senador (DF)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O preço da adaptação climática

Adaptação climática será mais cara do que ONU prevê, diz estudo.


LONDRES - A adaptação do mundo aos efeitos da mudança climática, como secas e inundações, deve custar duas ou três vezes mais do que estima a ONU, de acordo com estudo divulgado nesta quinta-feira.

O estudo elaborado por cientistas afirma que os custos, estimados em uma faixa de de US$ 40 a US$ 170 bilhões por ano até 2030 pela ONU, serão cerca de duas ou três vezes maior.

O Secretariado de Mudança Climática da Organização das Nações Unidas (ONU) estimou os custos da adaptação - itens como construção de casas mais elevadas para evitar inundações e combate a doenças causadas pelo aquecimento - em cerca de US$ 40 a US$ 170 bi.

A estimativa tem sido usada nas reuniões preparatórias para a cúpula de dezembro, em Copenhague, que deve resultar na aprovação de um novo tratado climático global.

"Se os governos estão trabalhando com números errados, podemos acabar com um acordo falso, que deixe de cobrir os custos da adaptação à mudança climática," disse Camillla Toulmin, diretora do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, que publicou o estudo em conjunto com o Instituto Grantham para a Mudança Climática, do Imperial College, de Londres.

O relatório diz que o Secretariado Climático da ONU produziu suas cifras com muita pressa, "em uma questão de semanas," segundo o autor Martin Parry, e abrangeu apenas parcialmente os setores incluídos.

Os autores levaram seis meses para atualizar a estimativa da ONU, que foram revistas por sete especialistas, entre eles os principais autores do estudo original da ONU. Essa nova estimativa não apresenta cifras definitivas.

"Só olhando em profundidade os setores que o Secretariado de Mudança Climática de fato estudou, estimamos que os custos de adaptação sejam duas a três vezes maiores, e, quando se incluem setores que o Secretariado de Mudança Climática deixou de fora, o custo real provavelmente é muito mais alto," disse Parry.

O novo relatório diz que a ONU deixou de fora setores como energia, turismo, ecossistemas, indústrias, varejo e mineração.

Parry disse que a maior parte dos custos para a adaptação à mudança climática recairá sobre os países em desenvolvimento, que são os mais afetados pelo problema. "Ninguém estimou isso, mas num chute seria de pelo menos dois terços (do custo total)," afirmou.

Os países mais pobres poderiam recorrer a um Fundo de Adaptação da ONU para arcar com parte dos gastos.

Esse fundo deve crescer de cerca de US$ 80 milhões atuais para cerca de US$ 300 milhões por ano até 2012 --ainda uma soma irrisória em relação àquilo que os países em desenvolvimento, a ONU, entidades humanitárias e os autores do novo estudo consideram ser necessário.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Mudança no Clima (Marina Silva)

Artigo de Marina Silva: Mudança no Clima

NESTA SEMANA acontecem dois eventos de grande significado. O Workshop Internacional sobre Soluções para o Desmatamento e Emissões de Gases de Efeito Estufa Causadas pela Expansão da Pecuária, promovido pela ONG Amigos da Terra, e o seminário Mudanças Climáticas -Oportunidades para uma Economia de Baixo Carbono, promovido pelo Fórum Amazônia Sustentável, pelo Instituto Ethos e pela empresa Vale.
No primeiro, o desafio é esboçar, em termos tecnológicos, financeiros, de mercado e de políticas públicas, os requerimentos para viabilizar uma produção pecuária sustentável no país, sem desmatamento e sem emissão de gases de efeito estufa. No segundo, 20 entidades e empresas privadas lançam carta aberta ao Brasil, apresentando seus compromissos voluntários para a redução de emissões de gases do efeito estufa.
Dessa forma, fortalecem a visão de que a adoção de compromissos mais fortes, como metas obrigatórias de redução de emissões, ao contrário do que alguns setores apregoam, favorece a competitividade do país, criando um diferencial para produtos e empresas nacionais no mercado global.
Juntem-se essas iniciativas a outras já realizadas ou em processo e constataremos que a economia de baixo carbono não é uma teoria do gueto, como ainda se quer fazer crer. Número crescente de empresas, em vários setores, entenderam que ela é irreversível e que a melhor estratégia é iniciar a transição já, para não serem tragados pela obsolescência num ponto de não retorno.
Estamos na fronteira de uma era.
Compreendê-la e vivê-la plenamente significa ter capacidade de trânsito e habilidade para entender pontos de vista alheios, dialogando com eles. Não sem razão, as iniciativas e eventos de caráter socioambiental são aqueles que naturalmente conseguem juntar empresas de vários setores da economia, órgãos públicos, organizações não governamentais, comunidades, academia, movimentos sociais.
Os grandes atores da economia finalmente percebem que o meio ambiente é parte do business e que não se pode ignorá-lo, sob pena de todos perderem.
As mudanças climáticas já chegaram ao mundo real do mercado, que certamente não perdeu a sua lógica, pautada pela realização do lucro. Está apenas reconhecendo, claramente, uma ruptura em curso na história. E, pragmática e inteligentemente, se adapta a ela. A uma velocidade maior do que a do sistema político, que ainda patina na sua cultura pesada, inviável, insustentável.
contatomarinasilva@uol.com.br

domingo, 23 de agosto de 2009

Futuro em chamas (Greenpeace)

Fogo invade a vegetação da Espanha.

Fogo invade a vegetação da Espanha.


Internacional — Relatório inédito do Greenpeace na Espanha aponta que aquecimento global agrava e intensifica incêndios nas florestas do sul da Europa

Um novo relatório lançado pelo Greenpeace na Espanha lista como o aquecimento global já está provocando um aumento na intensidade e propagação de incêndios florestais nos países do Mediterrâneo e no Sul da Europa.


Clique aqui para acessar o relatório “Futuro em chamas”, em espanhol.

O relatório detalha como as ondas de calor, os terrenos secos, as mudanças no uso do solo, as áreas degradadas e a falta de gestão das florestas tornam a vegetação mais inflamável e as queimadas cada vez maiores e mais difíceis de controlar. Esses impactos das mudanças climáticas já estão sendo observados em famosos destinos turísticos na Espanha como as ilhas Canárias e a Grécia.

As queimadas matam, destroem ecossistemas frágeis e arruínam a agricultura. Este ano nas Ilhas Canárias, Espanha, os incêndios têm causado muitos estragos: onze pessoas morreram e 8000 foram evacuadas. Dados do Centro Europeu de Informações sobre Incêndios florestais mostram que apenas 25 dos mais de 10 mil focos de incêndios queimaram até agora mais de 65% da superfície dos 500 ha atingidos.

Dados divulgados pela União Europeia esta semana mostram que até a metade da época de queimadas deste ano, os incêndios no continente já queimaram uma área maior do que em todo o ano passado. O relatório também fornece estudos de caso detalhados sobre os incêndios florestais na Galícia – no noroeste da Espanha, na fronteira com Portugal - onde há previsão de acontecer metade dos incêndios da Espanha.

“As mudanças climáticas está mudando o padrão e a intensidade dos incêndios com consequências sociais e econômicas desconhecidas”, disse Miguel Soto, do Greenpeace na Espanha. “Os incêndios florestais estão ficando fora de controle na Espanha e em toda a parte sul da Europa, bem como em outras regiões semi-áridas na Califórnia e Austrália. Com modelos de clima prevendo aumento das ondas de calor nos próximos anos, estamos nos aproximando de uma emergência global ”, completa.

A região do Mediterrâneo foi identificada pelo Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como um dos locais mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Os incêndios dos últimos anos incluem uma onda de calor que atingiu toda a Europa em 2003 e causou fortes incêndios em Portugal, no sul da França e na Itália; em 2007 os incêndios inavadiram Tenerife e Grécia; já em 2009, os incêndios mais fortes aconteceram na Espanha.

“Esse ciclo vicioso entre o aumento da temperatura e uma maior quantidade de incêndios nas florestas é uma evidência de que as mudanças climáticas são um fator chave na propagação desses incêndios, que por sua vez emitem mais gases e agravam o aquecimento global”, disse Christoph Thies do Greenpeace Internacional. “Líderes mundiais não podem deixar o planeta queimar e para impedir isso, devem colocar dinheiro sobre a mesa principalmente para combater o desmatamento. Se eles falharem , irão deixar nosso futuro virar cinzas", comenta.

Greenpeace acredita que na Convenção de Clima a ser realizada em Copenhague em dezembro, os líderes devem assumir um corte de 40% nas emissões até 2020 e que os países desenvolvidos invistam USD $ 140 bilhões por ano para ajudar países em desenvolvimento a migrarem para uma economia de baixas emissões de carbono, combater o desmatamento e investir em ações para se adaptar aos impactos das mudanças do clima.

Leia mais sobre esse assunto no blog do Greenpeace.

Ecologizar (de Wikipedia)

Ecologizar é uma expressão proposta pelo arquiteto e ambientalista brasileiro Maurício Andrés Ribeiro no seu livro[1] "Ecologizar, pensando o ambiente humano". Esta expressão não consta no Dicionário Aurélio.

Isso significa adotar uma ação de introduzir a dimensão ecológica nos vários campos da vida e da sociedade.

Ribeiro assinala que ecologizar é um verbo que ainda não existe em dicionários, mais expressa a ação de introduzir a dimensão ecológica nos vários campos da vida e da sociedade.

A ecologização da noção de segurança confere atenção a novos riscos e perigos que ameaçam a segurança da vida humana e ajuda a redistribuir recursos, voltando-os para prevenir ou combater os riscos ambientais relacionados com as mudanças climáticas.

A ecologização da sociedade influencia os processos de produção e da administração, o modo como os problemas são resolvidos, o modo como a sociedade se estrutura espacialmente, em que tipos de ecossistemas construídos, cidades e assentamentos vivem suas populações. Implica adoção de padrões de consumo e estilos de vida sustentáveis.

O filósofo francês Edgar Morin afirma a necessidade de ecologizar o pensamento, diante do fato de que a nossa cultura e a nossa civilização baseiam-se em valores e visões de mundo dissociadas das leis da natureza (uma visão antropocêntrica, ou seja, o homem como o centro de tudo), o que resulta na crescente degradação ambiental, acumulação de resíduos, perda de sustentabilidade, extinção das espécies.

Miguel Grinberg, ambientalista argentino, editor e autor no campo da ecologia social, define a difusão de valores ecológicos como um processo de contágio que pressupõe contato, transmissão por proximidade. Tanto a alegria pode ser contagiante, como também as doenças. No caso da ecologização, trata-se de contagiar a vida pessoal, a família, o município, a sociedade, o planeta, com o anticorpo da consciência ecológica, combatendo o vírus da poluição e da degradação do ambiente.

Diz a mitologia grega que o rei Midas transformava em ouro tudo o que tocava. Na peça intitulada O menino do dedo verde, o autor francês Maurice Druon retrata um menino que tinha a capacidade de melhorar o ambiente, limpá-lo e despoluí-lo a partir de seu toque. Cada indivíduo, tendo vontade, disposição e lucidez, pode atuar como um menino do dedo verde, colaborando para o processo de ecologização da sociedade, a partir de sua ação local. Tal ação pode referir-se a temas ligados à realidade local, como a outros de ampla abrangência e alcance global.

Encontro pede inclusão da água em Copenhague

Encontro pede inclusão da água em Copenhague

Os representantes dos 130 países que estão participando da Semana Mundial da Água 2009, que está ocorrendo em Estocolmo, na Suécia, pediram hoje para que as conclusões do encontro sejam incorporadas nos debates da Conferência sobre Mudança Climática, que ocorrerá em dezembro, em Copenhague. O encontro, que juntou 2,5 mil pessoas, termina amanhã.

Foi decidido também que as negociações sobre o clima devem levar em conta o valor da água para o meio ambiente, desenvolvimento sustentável e bem-estar da população, divulgou a Rádio ONU.

A declaração tirada da Semana Mundial da Água também pediu uma maior cooperação financeira e tecnológica à administração dos recursos hídricos nos países em desenvolvimento. A Semana Mundial da Água é um encontro anual realizado em Estocolmo desde 1991.

Avó de Obama ganha painel solar do Greenpeace no Quênia

Avó de Obama ganha painel solar do Greenpeace no Quênia

Para mostrar que é possível sim levar energia para lugares remotos, a avó do presidente americano Barack Obama, Mama Sarah, ganhou hoje de jovens ambientalistas quenianos um painel solar. A idéia, gestada no Greenpeace, é incentivar tecnologia limpa, segura e renovável,além de contribuir positivamente para redução do aquecimento global.

O Quênia, assim como vários outros países na África, está na fronteira dos impactos das mudanças climáticas e já sofre com redução das chuvas, que agrava problemas com a agricultura e inviabiliza hidrelétricas em larga escala.

As instalações dos painéis fazem parte de um workshop de 20 dias proposto pela Geração Solar do Greenpeace, onde estão participando 25 jovens do Programa da Juventude da Comunidade de Kibera, a segunda maior favela do mundo, e membros da comunidade de Nyang’oma Kogelo. Os jovens estão aprendendo como os painéis solares geram eletricidade, sua instalação e manutenção e a auto-montagem de lâmpadas solares.

Além de terem baixo impacto ambiental e serem fundamentais para o combate ao aquecimento global, as renováveis têm um forte apelo econômico. Em vários lugares do mundo, a indústria solar está pronta e capaz para atender a toda demanda de energia. O custo do kWh gerado nos painéis ainda é superior aos custos da energia das hidrelétricas e mesmo das termelétricas, mas deve se igualar ao custo médio da energia fornecida à rede nos próximos cinco anos. Sem impedimentos técnicos ou econômicos, os desafios para que a energia solar emplaque no mundo devem mirar a derrubada das barreiras políticas.

No Brasil o caminho é mais longo, mas as barreiras políticas já estão sendo quebradas. Uma legislação consistente para o setor está tramitando no Congresso Nacional e está prestes a ser votada. Essa legislação é o ponto de partida para a inserção do Brasil em um mercado que movimentou cerca de US$ 155 bilhões no mundo em 2008 e que cresce em média 30% ao ano.

O Projeto de Lei 630 prevê incentivos ao desenvolvimento das energias renováveis como o direito de distribuir e vender energia gerada por turbinas de vento, biomassa ou placas solares à rede ou em comunidades isoladas e a restrição a participação das termelétricas nos leilões de energia.

A água no cotidiano (Plano de Aula - Da revista Nova Escola)

Ciências

Sequência Didática Ensino Fundamental I

A água no cotidiano

Planeta Sustentável

Bloco de Conteúdo
Ciências Naturais

Conteúdo
Educação Ambiental

Introdução
Ao lado da biodiversidade e do aquecimento global, a disponibilidade de água está se tornando uma das principais questões socioambientais do mundo atual. Relatórios da ONU indicam que quase 20% da humanidade – cerca de 1 bilhão de pessoas – não têm acesso à quantidade mínima aceitável de água potável e aos 20 a 50 litros diários necessários para beber, cozinhar e tomar banho. Em contrapartida, o consumo per capita em países ricos como Estados Unidos e Canadá é de 300 litros diários de água. Inúmeras regiões do planeta já estão marcadas pela escassez e pelo estresse hídrico – desequilíbrio entre demanda e oferta de água, causado, entre outros fatores, pela contaminação dos recursos. Esse quadro vem gerando disputas e conflitos.

Este plano de aula inicia uma série de cinco propostas para trabalhar com a questão hídrica no ensino Fundamental. Serão abordados aqui, sob o ângulo da sustentabilidade e do consumo consciente, a origem, composição e distribuição da água e seus caminhos pela natureza, essenciais para compreender sua importância: sem ela, não seria possível a vida na Terra.

Objetivos
• Identificar a presença da água no cotidiano e reconhecer sua importância como recurso natural indispensável à vida no planeta.
• Reconhecer as diferentes etapas e processos que constituem o ciclo da água na natureza e avaliar repercussões das alterações nele promovidas pelas atividades humanas.

Conteúdos
Água: distribuição, usos e consumo e ciclo da água

Ano
1º ao 5º

Tempo estimado
Quatro aulas

Desenvolvimento das atividades
Primeira aula
De onde vem a água? Como ela chega até as nossas casas, pronta para o consumo? Como a utilizamos? Como podemos economizá-la, evitando o risco de o recurso faltar no futuro? Essas questões podem ser o ponto de partida para planos de estudo, projetos ou sequências didáticas sobre a questão da água.

Pode-se propor, de início, que os alunos elaborem, em pequenos grupos, listas com o uso da água em suas atividades diárias: para beber, tomar banho, escovar os dentes e lavar as mãos e o rosto, cozinhar, lavar objetos etc. Conversando entre si, podem descobrir também outros usos não diretamente ligados ao seu próprio cotidiano, como o agrícola e o industrial. Peça que todos mostrem os trabalhos à turma e discuta os resultados, destacando a presença e a importância da água em praticamente tudo o que fazemos. Aproveite e assinale, também, que ela é essencial ao organismo humano porque ajuda a regular a temperatura do corpo e a diluir ou transportar substâncias.

Segunda aula
As turmas podem iniciar esta aula assistindo ao vídeo Saber sobre a água, da Universidade de São Paulo. Como ele também mostra aspectos do ciclo da água na natureza e sua presença na superfície terrestre (rios, lagos e mares) e na atmosfera, pode-se aproveitar para conversar sobre isso com os estudantes. Estimule-os a falar sobre aspectos climáticos que já tenham observado, como os períodos de maior ou menor precipitação, que denotam padrões sobre a presença da água. Assinale que a Terra é o único planeta do Sistema Solar que tem a água nos três estados (sólido, líquido e gasoso). Ao final da aula, eles podem fazer representações em desenhos, textos ou colagem de figuras sobre os caminhos da água, sem a preocupação com a precisão sobre termos e processos neste momento.

Terceira e quarta aulas
Dedique as duas últimas aulas à preparação e à exposição dos resultados finais. Com base no que já foi visto, proponha aos estudantes o debate sobre formas de economizar e utilizar adequadamente a água (a reportagem “Poluição e desperdício reduzem a água disponível no Brasil” tem dados sobre usos e consumo no Brasil – ver indicação no final desse plano). Esclareça que, para chegar às residências e aos estabelecimentos comerciais e industriais, a água é captada em rios, lagos ou reservatórios, vai para uma estação de tratamento, onde passa por processos de filtragem e purificação, sendo distribuída pela rede aos domicílios e estabelecimentos, pronta para o consumo. Recomenda-se filtrar ou ferver a água antes de bebê-la.

Organizado em pequenos grupos, o pessoal pode elaborar folhetos com dicas para economizar água. Nas residências, é preciso atenção especial com o uso da água no banheiro (não tomar banhos demorados, fechar a torneira ao escovar os dentes ou fazer a barba, consertar vazamentos etc.), na cozinha (manter torneiras fechadas ao ensaboar a louça), evitar o uso de mangueiras em jardins e na lavagem de carros ¬– o gasto de água é muito maior do que com o uso de balde. O controle do consumo residencial pode ser acompanhado pela leitura da conta mensal. Os mesmos procedimentos valem para os ambientes de trabalho. Chame a atenção dos estudantes para as responsabilidades do poder público, encarregado de consertar ou instalar redes de abastecimento e coleta de água e tratamento de esgotos, fazer reparos em vazamentos ou realizar a limpeza de espaços públicos. Os alunos podem desenhar ou colar figuras e desenhos para ilustrar o folheto, que pode ser distribuído a outras turmas da escola e à comunidade.

Avaliação
Leve em conta os objetivos definidos inicialmente. Como a sequência didática é um conjunto articulado de aulas e atividades, registre a participação dos estudantes nas diferentes etapas e nos trabalhos individuais e coletivos. Examine a produção de textos, painéis, desenhos e outros trabalhos realizados por eles. Se necessário, promova debates ou atividades individuais para examinar o que os estudantes aprenderam neste percurso.

Quer saber mais?

Bibliografia
Ambiente Brasileiro: 500 Anos de Exploração dos Recursos Hídricos, Aldo Rebouças, em Patrimônio Ambiental Brasileiro, Wagner C. Ribeiro (org), Edusp, tel. (11) 3091-2911.

Internet
Revista de Estudos Avançados, v. 22, n. 63, São Paulo, IEA-USP, 2008 (Dossiê Água).
Recursos Hídricos, José Galizia Tundizi, em Revista Multiciência, Unicamp.
Dicas de como economizar água.
A Agência Nacional de Águas apresenta um balanço hídrico do Brasil.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo oferece explicações sobre o ciclo da água e a gestão dos recursos hídricos.
O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos disponibiliza dados sobre previsão do tempo, cartas sinóticas e fenômenos climáticos.

Vídeo
Vídeo da USP Saber sobre a água.

Consultoria: Roberto Giansant

Consciência planetária

artigo

Consciência planetária

Precisamos dizer, urgentemente, aos meninos com medo do futuro, que só se combate o caos atual, acabando com a insustentabilidade social, com a fome e a miséria. É preciso transformar a estrutura social, injusta e predatória que corrói o país

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Araquém Alcântara*
04/2007

Divulgação{txtalt}
Araquém Alcântara é conselheiro do Planeta Sustentável
Conheço crianças e adolescentes aterrorizados com o que julgam ser o fim do mundo. Precisamos urgentemente dizer-lhes que somente deles pode vir uma nova consciência planetária, que a Terra está realmente em agonia e que atingiu seu estado crítico. E isso porque nosso comportamento é destrutivo e egoísta e remonta há mais de 100 mil anos, quando começamos a atear fogo nas florestas, poluindo e esgotando os recursos naturais, supervoando e, enfim, incapacitando o futuro da vida.

Precisamos de um esforço extraordinario para ensiná-los esta nova forma de viver. Talvez a única possível, de agora em diante: respeito a tudo o que é vivo, responsabilidade cotidiana em cada ato; a percepção de que tudo está interligado, que Terra e Homem formam um único organismo e que o futuro só será menos aterrorizante se nos reconciliarmos com as sábias leis que regem este vasto complexo biológico.

Como diz o velho Samuca, habitante anônimo do "Parque Nacional Grande Sertão Veredas", em Minas Gerais, que é um homem que nunca frequentou a escola: "Nós estamos andando na Terra como um bando de cegos. Donde só se tira e num si põe. Um dia tudo mais tem que se acabar".

Este grande jardim planetário chegou ao caos, ao ponto da extrema desordem. É necessária uma mobilização mundial, um gigantesco esforço para reduzir a emissão dos gases estufa, para substituir o carbono fóssil, para interromper o envenenamento do ar.

Tudo o que temos feito é muito pouco. Navegamos entre a omissão e a hipocrisia. Veja o que estamos deixando acontecer com a maior riqueza deste país, a Floresta Amazônica, vasto espaço verde de mais de 5 milhões de km quadrados, de extrema importância para a regulação da temperatura do planeta. Já permitimos que 17% de sua área fosse arrasada, o equivalente a duas Alemanhas e a três estados de São Paulo. Isso dentro de um país, cuja constituição declara que a Floresta Amazônica é patrimônio nacional. Somos um povo que tem seu nome derivado de uma árvore e deveríamos ver cada árvore como um monumento vivo de nossa cultura e história.

Temos que explicar, urgentemente, aos meninos com medo do futuro que é possível mitigar os efeitos do aquecimento global, desde que a gente tome pra si, agora, esta missão de limpeza e regeneração: respeitar a natureza como parte de nós mesmos, consumir menos, produzir menos lixo, reciclar o lixo, consumir menos eletricidade, menos água, andar mais a pé ou de bicicleta. E, numa escala mais ampla, exigir matérias-primas com certificação como a madeira (que deve ser de florestas plantadas e ter selo de origem) e exigir a imediata interrupção do desmatamento na Amazônia, na Mata Atlântica e nos demais ecossistemas.

Aprendi o que era sustentabilidade, ou um de seus vários nomes, quando uma tempestade de chuva ácida caiu sobre a minha cabeça, em Cubatão, no início dos anos 70. Quando vi que aquela chuva e toda a poluição do Vale da Morte produzia crianças sem cérebro. E quando vi que a desgraça atinge, sobretudo, os mais pobres. Aí resolvi me colocar a serviço da celebração da vida.

Precisamos dizer, urgentemente, aos brasileiros, sobretudo aos meninos com medo do futuro, que a maior de todas as tarefas contra os efeitos do aquecimento global é combater a insustentabilidade social , é preciso acabar com a fome e a miséria, é preciso transformar esta estrutura social, injusta e predatória que corrói o país.

É preciso que este princípio universal deixe de ser utopia: "todo homem tem direito à saúde, à educação, à cultura..."


* Araquém Alcântara é um dos mais premiados fotógrafos em atuação no país que. Desde os anos 70, dedica-se integralmente à divulgação e à defesa do patrimônio natural e dos valores culturais do Brasil.

Planeta Sustentável - Glossário

Seqüestro de carbono

Conceito utilizado durante a Conferência de Kioto, em 1997, e que se trata do processo de absorção do gás carbônico presente na atmosfera pelas florestas, oceanos e outros organismos que capturam esse gás por meio da fotossíntese e liberam oxigênio.

Segurança alimentar e nutricional

Segundo o governo brasileiro, o termo implica no acesso a uma alimentação saudável, acessível e de qualidade, em quantidade suficiente e de forma permanente a toda a população do país. A Segurança Alimentar e Nutricional prevê a devida alimentação aos indivíduos mais carentes, respeitando as características culturais de cada região do Brasil.

Sociodiversidade

Conjunto de diferentes formas de ser, agir e pensar dos agrupamentos humanos, abrangendo suas relações com o ambiente, com o espaço, suas formas de organização política, suas concepções religiosas, suas relações de parentesco e suas expressões culturais.

Sobre o Greenpeace

Quem somos

"Um dia, a Terra vai adoecer. Os pássaros cairão do céu, os mares vão escurecer e os peixes aparecerão mortos na correnteza dos rios. Quando esse dia chegar, os índios perderão o seu espírito. Mas vão recuperá-lo para ensinar ao homem branco a reverência pela sagrada terra. Aí, então, todas as raças vão se unir sob o símbolo do arco-íris para terminar com a destruição. Será o tempo dos Guerreiros do Arco-Íris."

(Profecia feita há mais de 200 anos por "Olhos de Fogo", uma velha índia Cree.)

Esta profecia embalou as longas noites dos fundadores do Greenpeace que navegavam para as Ilhas Aleutas, no Alasca, em 1971, na tentativa de impedir um teste nuclear dos Estados Unidos. A ação estimulou um imenso debate e ganhou o apoio da opinião pública contra os testes nucleares, que foram suspensos no mesmo ano. Nascia, assim, o Greenpeace. E a profecia daria nome ao primeiro navio da organização, o Rainbow Warrior, e acabaria por batizar os ativistas do Greenpeace - conhecidos em todo o mundo como "Os Guerreiros do Arco-Íris"

O Greenpeace é uma organização global e independente que atua para defender o meio ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Investigando, expondo e confrontando crimes ambientais, desafiamos os tomadores de decisão a reverem suas posições e mudarem seus conceitos. Também defendemos soluções economicamente viáveis e socialmente justas, que ofereçam esperança para esta e para as futuras gerações.

Por não aceitar doações de governos, empresas ou partidos políticos, o Greenpeace existe graças à contribuição de milhões de colaboradores em todo o mundo, que garantem nossa independência e o nosso compromisso exclusivo com os indivíduos e com a sociedade civil. Hoje, o Greenpeace está presente em mais de 40 países e conta com a colaboração de aproximadamente 3 milhões de pessoas.


sábado, 22 de agosto de 2009

Ditadura transgênica

São Paulo (SP), Brasil — Com um projeto de lei para banir dos alimentos industrializados o rótulo de transgênico, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) pretende impor à população a ignorância alimentar.

Em audiência pública no dia 1º de julho na Câmara Federal, o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS) fez uma defesa ao mesmo tempo apaixonada e saudosa da ditadura militar no Brasil. Segundo ele, vivemos hoje em outro tipo de regime, muito pior do que o dos militares. É o regime da "ditadura de certos órgãos de imprensa", disse Heinze, “que vendem para o mundo uma imagem errada do Brasil". A imagem correta, para ele, deve ser a de um país de alienados, onde a população não deve ser informada de nada e muito menos sobre o que come.

Heinze age do jeito que fala. Em 16 de outubro do ano passado, ironicamente a data em que se celebra o dia da alimentação, o deputado apresentou um projeto de lei que foi apelidado de ‘rotulagem, zero’. Basicamente, sua proposta é banir dos rótulos da comida dos brasileiros qualquer informação sobre se os produtos contêm ou não transgênicos. O projeto de Heinze está tramitando com uma celeridade incomum para os padrões legislativos brasileiros. Já passou pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sequer foi debatido nas Comissões de Agricultura e Meio Ambiente e, neste momento, aguarda uma decisão de líderes partidários para ser submetido à votação em plenário.

Se o projeto for aprovado, o Brasil vai dar um passo atrás e condenar sua população à mais completa ignorância alimentar. Grandes serão as chances de que qualquer um de nós, mesmo que seja contra transgênicos, acabe engolindo uma engenharia genética da Monsanto achando que está consumido um produto criado pela natureza. Aprovada no Brasil em 2005, mas plantada clandestinamente desde 1997, a soja transgênica representa hoje cerca de 60% de toda a produção brasileira do grão. Transformada em lecitina, óleo e gordura, dentre outros derivados, a soja é parte de inúmeros tipos de produtos da indústria da alimentação, de biscoitos a cereais, de margarinas a papinhas para criança.

Segundo o atual decreto de rotulagem, se 1% ou mais dos ingredientes que compõem esses produtos forem transgênicos, o produto final deve ser rotulado com um "T" preto dentro de um triângulo amarelo (símbolo da rotulagem definido pelo Ministério da Justiça após consulta pública). O decreto define que a informação sobre a natureza transgênica do grão "deverá constar do documento fiscal, de modo que essa informação acompanhe o produto ou ingrediente em todas as etapas da cadeia". Ou seja, deve-se rastrear o produto, saber de onde ele veio e como foi produzido.

O projeto do deputado Luiz Carlos Heinze retira essa necessidade com a sutileza de quem quer mascarar suas meas intenções. Ele mantém a rotulagem para alimentos com 1% ou mais de transgênicos, mas define que para isto os testes devem ser feitos nos produtos finais, já processados, e cuja detecção é impossível de ser obtida na grande maioria dos casos. Esta ausência de rastreabilidade prejudica não só o direito de todos os brasileiros de saberem o que consomem, mas também a liberdade de parte da indústria que queira trabalhar com alimentos livres de transgênicos por princípio ou por pura estratégia de negócio.

O desconhecimento da origem e natureza de qualquer produto é incompatível com a noção de consumo que tem se construído ao longo dos últimos anos. Tal mudança de paradigma, que valoriza os bons métodos de produção, é uma tendência não só no Brasil, mas no mundo todo, inclusive nos países que hoje compram soja, carne, etanol, e outros produtos brasileiros.

Não por acaso a França, a Alemanha e outros países europeus possuem claras leis de rotulagem de transgênicos baseadas na rastreabilidade do grão, inclusive da nossa própria produção que é exportada para a Europa. Esta prática não deveria ser um privilégio dos compradores internacionais, mas garantida também para os consumidores brasileiros.

O projeto “rotulagem zero” de Heinze se torna ainda mais nocivo neste momento em que o Brasil colheu sua primeira safra de milho transgênico, sob total descontrole acerca de contaminação na cadeia produtiva, conforme contou reportagem da Folha de S. Paulo publicada no último dia 10 de maio. A exemplo da soja, o milho é parte de inúmeros produtos como o cereal matinal, ou os salgadinhos que as crianças consomem diariamente, e sobre os quais se deve garantir o direito de escolha.

A tendência a cultivar a desinformação demonstrada pelo deputado Luiz Carlos Heinze pode colocar o Brasil na contramão da nova lógica econômica do século XXI, que preza cada vez mais pela informação e preservação ambiental. Neste contexto, seu projeto de lei 4148/2008 representa uma espécie de "ditadura transgênica", na qual perderá o Brasil, com portas fechadas no mercado internacional, e os brasileiros, desprovidos de seu direito de escolher o que querem comer.