sexta-feira, 8 de maio de 2009

Entrevista sobre Escola e Cidadania Planetária

Escola e Cidadania Planetária

Edgard de Assis Carvalho - 31/8/2007

Edgard de Assis Carvalho é graduado em Ciências Sociais (USP), doutor em Antropologia pela F.F.C.L. de Rio Claro (atual UNESP), livre-docente pela Faculdade de Ciências e Letras (UNESP-Araraquara), professor titular de Antropologia (PUCSP). Ex-presidente da Fundação Cultural São Paulo (PUCSP), ex-membro da comissão de arte do Metrô (São Paulo), ex-presidente do CONDEPHAAT (Secretaria de estado da cultura de São Paulo), Vice-presidente atual do Instituto de Estudos da Complexidade (Rio de Janeiro), coordenador do Núcleo de estudos da complexidade (PUCSP), membro do conselho científico internacional da Universidad del Mundo Real Edgar Morin, estado de Sonora, México. Tradução de obras de Edgar Morin, Michel Cassé, Michel Serres, dentre outros.

Nesta entrevista sobre o tema de sua palestra no Saber 2007, apresenta situações concretas de como lidar com as crianças de seis anos recém-chegadas ao Ensino Fundamental. Destaca aspectos como a curiosidade e o modo dessa criança aprender, a formação do professor para essa faixa etária e a infra-estrutura da escola.

Aprendaki – Qual a importância em inserir o tema “Escola e Cidadania Planetária” no congresso SABER 2007?

Edgard de Assis Carvalho – Como sempre, o SABER discute temas emergentes na educação. Inserir o tema neste ano evidencia que a cidadania planetária é inadiável. Mais que isso, implica uma posição contundente contra a fragmentação disciplinar que preside a organização escolar.

Aprendaki – Quais os benefícios da cidadania planetária?

Edgard de Assis Carvalho – Garantir um planeta sustentável para as futuras gerações, alertar que a mudança de paradigma é mais do que necessária. O sistema-mundo tem como obrigação empenhar-se na construção de uma biopolítica da civilização terrena.

Aprendaki – Qual é o papel ético da escola diante das contradições contemporâneas?

Edgard de Assis Carvalho – Em qualquer nível – fundamental, médio, superior – a escola deve encontrar mecanismos curriculares que permitam estimular a auto-ética, a sócio-ética e a antropoética, condições inegociáveis para a construção do sujeito responsável por si mesmo e pelos outros.

Aprendaki – Como as escolas trabalham a questão ética com os alunos?

Edgard de Assis Carvalho – Não se trata de transformar a ética numa disciplina, mas tentar que ela penetre nos parâmetros educacionais e nas disciplinas de modo geral. Sabemos que como qualquer ato humano, as ações éticas são sempre carimbadas pela incerteza. Devemos assumir as incertezas e, a partir delas, reorganizar nossas ações e pensamentos.

Aprendaki – Segundo Jacques Delors, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser são os quatro pilares da educação. Qual a importância desses pilares na sociedade do conhecimento do século 21?

Edgard de Assis Carvalho – Os pilares estabelecidos no relatório Delors são operadores do conhecimento, guias cognitivos cujo objetivo básico é questionar e superar a fragmentação dos saberes e a divisão cartesiana entre a cultura científica e cultura humanística.

Aprendaki – Qual a relação entre cidadania planetária e globalização?

Edgard de Assis Carvalho – A cidadania planetária é inadiável para que as contradições entre o global e o local, o universal e o particular possam ser resolvidas de vez. Uma política eqüitativa entre nações e povos deve ser pensada por todos como fundamento básico da reconstrução da pólis e da solidariedade transnacional.

Aprendaki – O que a escola precisa para vivenciar os quatro pilares da educação?

Edgard de Assis Carvalho – Há uma tese de Marx que sempre deve ser relembrada. Ela diz que qualquer mudança nas condições do ensino e da educação deve, antes de mais nada, passar pela mudança na cabeça dos educadores. Esse é o pressuposto. Pô-lo em ação implica assumir a dialogia entre a vida e as idéias. Para reformar a escola, é preciso reformar e, com urgência, os educadores.

Aprendaki – Como construir uma educacional para a cidadania e a ética planetárias?

Edgard de Assis Carvalho – Essa base educacional se constrói no cotidiano de uma sala de aula, com professores afinados com os conhecimentos de seu tempo e alunos empenhados em aprendê-los e aplicá-los dentro e fora da escola. A religação dos saberes é o ponto de partida para isso. Arte-Ciência-Humanidades devem constituir a base de qualquer reforma educacional.

Aprendaki – Que mensagem o senhor deixa para nossos leitores sobre ética e cidadania planetárias?

Edgard de Assis Carvalho – A ética começa com o sujeito, exige auto-exame e auto-crítica permanentes, para depois prolongar-se para o restante da sociedade e do planeta. A cidade planetária deve ser arduamente conquistada. Somente ela tornará possível a conquista de uma política de civilização para a Terra-pátria.

* Entrevista realizada pela jornalista Renata Del Vecchio, colaboradora do Portal Educacional Aprendaki

Por Aprendaki.com.br

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