segunda-feira, 23 de março de 2009

Ensino de Português e Cidadania

"Todos nós aqui sabemos que, direta ou indiretamente, um dos maiores problemas do ensino de língua portuguesa passa pela questão do preconceito lingüístico. Na maior parte das vezes, o ensino de gramática é feito de forma rígida, como se tudo que fosse diferente do que está registrado ou codificado por nossas gramáticas fosse inteiramente errado. O ensino normativo tem o objetivo explícito de banir das línguas formas ditas empobrecedoras, formas ditas desviantes, formas consideradas indignas de uma língua "bem falada" e, portanto, consideradas indignas de serem usadas por "homens de bem". E, na perseguição desse objetivo (no sentido mais literal do termo), muitas vezes, e com freqüência, banem-se da escola não as formas lingüísticas consideradas indesejáveis mas sim as pessoas que as produzem, porque estas formas são normalmente aquelas produzidas em maior quantidade pelas pessoas de classe social sem prestígio. As pessoas de classe prestigiada também produzem as formas consideradas indesejáveis, só, às vezes, em menor quantidade.

Em nome da "boa língua" pratica-se a injustiça social, humilhando o ser humano por meio da não-aceitação de um de seus bens culturais mais divinos: o domínio inconsciente e pleno de um sistema de comunicação próprio da comunidade ao seu redor. E mais do que isto: a escola e a sociedade da qual a escola é reflexo fazem associações sem qualquer respaldo lingüístico objetivo entre domínio de determinadas formas lingüísticas e beleza ou feiura; entre domínio de determinadas formas lingüísticas e elegância ou deselegância; entre domínio de determinadas formas lingüísticas e competência ou incompetência; entre domínio de determinadas formas lingüísticas e inteligência ou burrice. (......)

(....) Sabe-se bem que, infelizmente, língua é também instrumento de poder; língua é também instrumento de dominação; língua é também instrumento de opressão. Ainda não vi, e gostaria de ver um dia (a utopia faz parte da vida), a língua ser usada como um real instrumento de libertação. "

(Scherre, Marta. 1995)

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