sexta-feira, 13 de março de 2009

Efeitos globais do bife brasileiro (Scientific American Brasil)


Reportagem
edição 82 - Março 2009

Desmatamento para pastagens na Amazônia é responsável por aproximadamente 50% dos gases de efeito estufa no país
por Igor Zolnerkevic
©VALTER CAMPANATO/ABR
PADRÃO DE OCUPAÇÃO da terra no Brasil se repete na Amazônia: derrubada da floresta e implantação da pecuária como forma de legitimação.
O maior rebanho bovino do mundo pertence ao Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) sugerem um número total de 170 a 207 milhões de cabeças de gado – quase ou mais que um boi por habitante. O Brasil é um caso muito importante de impacto ambiental da produção de gado de corte. O relatório de 2006 “A Longa Sombra do Gado de Corte”, da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), cita o Brasil muitas vezes e chama a atenção para as peculiaridades do país.

Enquanto em países desenvolvidos a maior parte dos gases de efeito estufa (GEE) vem do setor energético, a mais recente estimativa divulgada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com base em dados de 1994, revela que 55% a 60% das emissões brasileiras resultam do desflorestamento, geralmente para abertura de novas pastagens.

De fato, não existe um estudo científico preciso do volume dos GEE do desmatamento que se deve à formação de pastagens, justifica Paulo Barreto, pesquisador do Instituto Imazon, em Belém, no Pará. É possível, no entanto, estimar uma ordem de grandeza. Se 75% a 80% do desmatamento na Amazônia são devidos à abertura de pastagens, então, só esse processo, na Amazônia, responde por 41% a 48% das emissões de GEE brasileiras.

Somando a esse número as emissões da atividade do gado de corte em si – segundo estudos recentes, algo como 9% das emissões totais do país – conclui-se que direta ou indiretamente a carne bovina produz em torno de 60% dos GEE do Brasil. Isso é mais que o triplo da média global, que o relatório da FAO estima em 18%.

Igor Zolnerkevic jornalista científico, já colaborou com publicações como o jornal Folha de S.Paulo e a revista Pesquisa Fapesp. Mantém o blog Universo Físico.

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