domingo, 19 de abril de 2009

A Tarde On Line (Dia do Índio)




Dia do Índio serve para reforçar a imagem folclórica

Mário Bittencourt | sucursal Eunápolis

Rosto pintado, descalços, com penas na cabeça e uma flecha ou lança na mão e ouvindo o adulto contar sobre os índios do Brasil. É assim que, na avaliação de estudiosos e defensores da causa indígena, é lembrado o Dia do Índio, uma data que, segundo eles, devido ao seu tratamento, se aproxima do folclore.

Coordenador da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anai), José Augusto Sampaio analisa que a data de hoje nas cidades e escolas, sobretudo particulares, serve mais para estereotipar o índio enquanto ser que existiu, relegando-o ao passado, como se na sociedade de hoje não fosse mais possível de encontrá-lo.

“O que é mostrado para as crianças são os índios com caras pintadas, o índio que habitou o Brasil, que os portugueses encontraram. Não se fala dos povos que estão aí em busca de dignidade, que foram massacrados, que perderam suas terras e lutam por sobrevivência”, frisa.

Para a antropóloga Maria do Rosário, do Departamento de Antropologia da Ufba, todo ano é a mesma coisa no Dia do Índio. “Essa entrevista mesmo eu dou todo ano na semana antes da data, que só serve mesmo para o grito de guerra ser maior, pois é quando a voz dos índios soa mais alto. Mas, de resto, há muita coisa a ser conquistada”.

IDENTIDADE – Os pesquisadores dizem que a situação do índio na Bahia, assim como em todo o Nordeste, chegou a um nível de esquecimento em que a sociedade reconhecer um índio como tal não é fácil, devido à visão estereotipada de que o índio tem de ter pele morena, usar cocá, ter olhos puxados e cabelo liso.

O índio Rafael da Silva Barbalho, 19 anos, do Conselho Indígena Truká, aldeia situada no norte do Estado, conta que sentiu essa dificuldade de reconhecimento, principalmente quando morava na cidade. “Nossa identidade foi reafirmada depois que saímos da área urbana e viemos para a aldeia”.

Na sua avaliação “as pessoas que duvidavam da etnia começaram a acreditar quando viram que temos órgãos de defesa indígena do nosso lado. Eles olham quando passamos nos carros para ir ao médico ou resolver alguma coisa e percebem que aquelas pessoas que não possuíam muitos traços indígenas são realmente índios”, disse.

Para a cacique da aldeia Caramuru (sul do Estado), de índios Pataxós Hã-hã-hãe, Ilza Rodrigues da Silva, índio não se faz do jeito que a sociedade quer. “Ele nasce índio porque tem seu tronco e sua cultura que o tornam um ser profundamente identificado com suas raízes e suas crenças”, assinala. Para ela, o Dia do Índio não deve ser comemorado porque “o indígena coleciona perdas”, frisa.


Coordenador de políticas para os povos indígenas da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do governo estadual, Jerry Matalawê, que é da aldeia Pataxó de Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, diz que o índio se identifica como ser indígena quando tem orgulho de participar das tradições do seu povo. “Ele sente o sangue do seus antepassados correr na veia”, disse.



Colaboraram Cristina Laura e Ana Cristina Oliveira

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