Historicamente enfrentando estiagens severas, boa parte da população nordestina tem ainda mais motivos para se preocupar com as mudanças que um clima mais quente trará para a região. Afinal, áreas hoje tidas como semi-áridas poderão se tornar pequenos pedaços do Saara, verdadeiros desertos encravados em meio à Caatinga. O resultado seria ainda mais pobreza, fome e esvaziamento demográfico provocado por novas migrações.
Essas previsões foram feitas por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais e da Fundação Oswaldo Cruz, com base em dados da Embrapa e da Unicamp sobre mudanças na produção agrícola nacional frente às alterações climáticas. Os cálculos também mostraram que o PIB nordestino pode sofrer queda superior a 11% nas próximas décadas, baseada em áreas cada vez menores para produção.
Em um cenário 4ºC mais quente até 2070, com diminuição das chuvas entre 15% e 20%, por exemplo, oito em cada dez hectares de terras agricultáveis no Ceará se perderiam. Em Pernambuco, a redução seria de 65%. Paraíba e Piauí também sofreriam sérios prejuízos.
Vivem cerca de 20 milhões de pessoas no semi-árido brasileiro, que representa mais da metade do Nordeste e porções do norte mineiro e do Espírito Santo. Por isso, entre outras ações, faz-se urgente o aporte de recursos para que a região possa enfrentar e conter uma série de efeitos climáticos adversos, com impactos nas populações, na economia e na sobrevivência da própria Caatinga.
Em evento realizado no fim do ano passado, em Fortaleza (CE), o ministro do Meio Ambiente Carlos Minc prometeu que o Nordeste receberia entre 60% e 70% do dinheiro depositado no Fundo de Mudanças Climáticas, algo em torno de R$ 300 milhões anuais oriundos de royalties da indústria petrolífera. O projeto de lei que permitiria esses aportes, no entanto, ainda tramita no Congresso.
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