quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ciência, literatura e economia (Scientific American Brasil)


28/01/2009

Ulisses Capozzoli
A crise econômica mundial pode fazer com que 51 milhões de pessoas em todo o mundo fiquem sem emprego se o ritmo das demissões não for contido por mudanças nas expectativas, segundo relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Com isso a taxa global de desemprego subiria para 7,1% contra 6% da estimativa anterior, o que somaria 230 milhões de pessoas sem emprego em todo o mundo. No ano passado os desempregados globais eram 190 milhões.
Na América Latina, tradicionalmente uma das regiões desfavorecidas do mundo, os desempregados podem chegar a 23 milhões, contra os 19 milhões no ano passado.
Crise econômica à parte, o desemprego tem estreita relação com a produção científica, com desdobramentos na tecnologia.
Levando em conta as resistências culturais e interesses imediatos, aparentemente é mais fácil ampliar as fronteiras do conhecimento científico-tecnológico que alterar padrões de comportamento.
Os bancos, em escala global e nacional, são exemplo disso, ainda que não os únicos.
A informatização dos últimos anos nem sempre melhorou a qualidade dos serviços ou reduziu o valor das taxas - ao contrário disso - mas levas de bancários foram desempregados, substituídos pela informatização.
De um ponto de vista histórico não é a primeira vez que isso acontece.
No começo da Revolução Industrial, hordas de desempregados liderados por um certo Ned Ludd (os ludistas) investiram contra as máquinas que roubavam seus empregos e assim ameaçavam suas famílias.
Na Inglaterra, o parlamento criou uma lei condenando à morte os trabalhadores indignados que destruíssem as máquinas que os ameaçavam. Foi quando Lorde Byron, membro do parlamento, fez um histórico pronunciamento a favor dos humanos.
George Gordon Byron (1788-1824), mais conhecido como Lorde Byron, é um dos mais importantes poetas ingleses e figura proeminente do romantismo.
Foi um dos primeiros escritores a descrever os efeitos da Cannabis sativa (maconha) no organismo, numa linhagem que passou, entre outros, por Aldous Huxley e Thomas de Quincey. Gente lúcida e comprometida com a dignidade humana.
Autor de obras como Perigrinação de Childe Harold e Don Juan, Lorde Byron ficou famoso não apenas por sua inteligência - considerada muito acima do padrão - e seus escritos, mas também por um estilo de vida tido como extravagante (amantes e dívidas, entre outros).
Lorde Byron morreu em combate, ao lado de tropas gregas que lutavam pela independência da opressão turca.
Irônica e curiosamente, Ada Lovelace, filha dele, colaborou com Charles Babbage para o desenvolvimento do que hoje é considerado o ancestral dos computadores.
Encaminhamentos mais promissores para a resolução da crise global talvez estejam mais próximos de gente como Lorde Byron, com lucidez e total descomprometimento com as regras estabelecidas.
De certa forma - guardadas todas as proporções - também foi o que aconteceu com outro britânico, Lorde Keynes, peça fundamental na superação da crise do fim dos anos 20 do século passado pela intervenção do Estado na economia, o que define os últimos limites do liberalismo econômico praticado até então.
Um dos problemas atuais é que parece não haver substitutos para gente como Lorde Byron e Lorde Keynes.

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