terça-feira, 11 de agosto de 2009

Chico Mendes (do site da Senadora Marina Silva)



Chico Mendes: Apresentação

A história de Chico Mendes já é parte da história da floresta amazônica e seus povos. Ele tornou-se um marco na mobilização em favor da justiça social e da preservação da natureza. Como a poronga que ilumina as estradas de seringa na mata, Chico apontou novos caminhos para os movimentos populares.

Lutou com seus companheiros, seringueiros e índios, pela defesa da floresta que ocupavam e utilizavam de maneira não predatória, e empregou formas de luta que, por sua originalidade e representatividade, deram aos movimentos de seringueiros uma repercussão ampla.

Suas propostas entraram em conflito com os interesses que pressupunham a devastação das florestas e a expulsão daqueles que nela vivem em harmonia com a natureza. Esses interesses, representados pela UDR e estimulados pela política econômica e social do governo, foram os responsáveis últimos pelo assassinato de Chico Mendes.

Chico Mendes: A Defesa da Vida

Francisco Alves Mendes Filho, seringueiro desde criança, dedicou praticamente toda a sua vida à defesa dos trabalhadores e povos da floresta. Participou da fundação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia e Xapuri, além da fundação do Partido dos Trabalhadores do Acre e do Conselho Nacional dos Seringueiros. Chico Mendes reuniu em sua luta o trabalho sindical, a defesa da floresta e a militância partidária. Chico Mendes teve o seu trabalho reconhecido internacionalmente, sendo várias vezes premiado, inclusive pela ONU, que o distinguiu como um dos mais importantes defensores da natureza no ano de 1987. Através de sua luta pela implantação das reservas extrativistas, Chico combinava a defesa da floresta com a reforma agrária reivindicada pelos seringueiros, contrariando grandes interesses, principalmente os dos latifundiários e da UDR. Em 22 de dezembro de 1988, Chico foi assassinado.

Entrevista realizada durante o 3º Congresso Nacional da CUT ( 9/9/88 )

. Como surgiu essa proposta de aliança entre os povos da floresta?

Chico - A aliança dos povos da floresta vem em função de uma história que começa a partir do desbravamento da Amazônia. Para você ter uma idéia, os índios eram os legítimos donos da Amazônia e quando em 1877 começou o seu desbravamento houve uma espécie de tráfico de escravos para lá: eram nordestinos, cujos patrões - os grandes seringalistas do início do ciclo da borracha - aproveitaram-se de sua miséria, usando-os nesse desbravamento. Essas pessoas foram preparadas para lutar contra os índios, formando um exército de brancos preparados pelos seringalistas, pelas empresas, grupos e banqueiros internacionais, como era o caso da Inglaterra e dos EUA interessados na borracha da Amazônia. Começa então o conflito entre índios e brancos.

Nessa época, mais de sessenta grupos tribais na Amazônia foram massacrados pela ganância dos patrões. E a cada grupo dizimado correspondia a formação de grandes áreas de seringais. Assim começa toda a história.

Essa história permaneceu na década de 70 quando o governo militar decidiu acabar com o monopólio estatal da borracha e os seringalistas caíram na falência. A situação piorou muito para o seringueiro que era tido até então como uma espécie de escravo, que tinha sua sobrevivência garantida. Após 1970, com a implantação dos sistema latifundiário, com a política de especulação da terra, a situação mudou muito, iniciando-se então os grandes desmatamentos e a expulsão em massa.

De 1970 a 1975 chegaram os fazendeiros do sul que, com o apoio dos incentivos fiscais da SUDAM, compraram mais de 6 milhões de hectares de terra, espalhando centenas de jagunços pela região, expulsando e matando posseiros e índios, queimando os seus barracos, matando, inclusive, mulheres e animais.

Naquele momento, todos viviam nas matas, ninguém tinha consciência de luta. Os filhos de seringueiros não tinham o direito de ir à escola, pois aprenderiam a fazer contas e descobririam que estavam sendo roubados; então os patrões não permitiam. Na minha região, em cinco anos foram expulsos mais de 10 mil famílias de seringueiros. Quatro mil delas tentaram a vida na cidade aumentando o cinturão de miséria das cidades. O resto foi para a Bolívia tentar a vida nos seringais de lá, onde até hoje, numa situação difícil pois não são considerados nem brasileiros nem bolivianos, vivendo na clandestinidade.

A partir de 1975 começa a nascer uma consciência, organizam-se os primeiros sindicatos rurais juntamente com um trabalho da Igreja Católica. Mas tudo ocorrendo muito lentamente até 1980, quando generalizou-se por toda região o movimento de resistência dos seringueiros para impedir os grandes desmatamentos. Foi criado o famoso "empate" , forma que encontramos de, em mutirão, nos colocarmos diante dos peões, das motosserras, iniciando um trabalho no sentido de impedir os desmatamentos. Esse movimento era de homens, mulheres e crianças. As mulheres tiveram um papel muito importante como linha de frente e as crianças eram usadas como uma forma de evitar que os pistoleiros atirassem. Tínhamos uma mensagem para os peões: nos reuníamos com eles e explicávamos que destruindo a floresta eles não teriam mais como sobreviver e assim, muitas vezes, contávamos com suas adesões. O inimigo maior era a polícia contratada pelos fazendeiros. Nesse período ocorreram muitas prisões e pancadarias.

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