sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ecologia e Literatura

Ecologia e Literatura

Ler e escrever são atividades fundamentais no processo de integração entre o homem e a natureza. Essa é uma das conclusões da bióloga Rita Mendonça ao terminar as Oficinas de Educação Ambiental realizadas nas Bibliotecas Comunitárias Ler é Preciso em várias cidades brasileiras

ritaEm setembro e outubro de 2007 foram realizadas Oficinas de Educação Ambiental em diversas Bibliotecas Ler é Preciso com a bióloga Rita Mendonça. Confira alguns relatos dos participantes e os comentários da educadora:

Energia em movimento

“Não foram viagens comuns. Enquanto chegávamos a cada lugar, eu imaginava a intrincada malha de roteiros feitos por mim e cada um dos participantes das oficinas. Tantos esforços convergindo para a sua realização. Os anfitriões se desdobravam na organização. Todos sabiam quão especiais seriam aqueles encontros — e foram. Cada lugar com sua própria cor, tom, intensidade. Havia muita emoção pela novidade da situação, viajar, receber, conhecer, renovar. Essa intensa energia em movimentação em muito contribuiu para a qualidade e a profundidade dos encontros”.

Transformando hábitos

Para tornar o lugar onde vivemos o melhor lugar do mundo, precisamos expandir nossa idéia de ‘lugar’. Por isso, as propostas da educação ambiental de avançar na visão de mundo e orientar nas tomadas de decisão precisam fazer sentido para as pessoas; não podem ser normas ditadas por especialistas; precisam tocá-las lá no fundo, para que possam transformar seus hábitos condicionados em hábitos conscientes e enraizados”.

Tarefa do educador ambiental
“Incrível pensar que, apesar de todo o conhecimento acumulado por toda a história humana, nossa inteligência não está formatada para entender e pensar questões relativas à Terra e seus habitantes. (...) Trazer essas questões para o cotidiano, para a consciência diária, é a tarefa do educador ambiental.”


Livros podem curar

“É muito especial fazer essas reflees nos ambientes das bibliotecas. Os livros podem também nos curar da cegueira de uma visão de mundo limitada pelo imediato ou pelos repertórios formados pela mídia. Pessoas preparadas para o mergulho em livros estão abertas para o permanente despertar que os textos trazem. (...) A força vital que a homogeneização das paisagens lhes retira pode ser compensada pela riqueza de mundos trazida pelos livros e pela indelével marca que as reflees calcadas na experiência proporcionam. Os bons livros são parceiros fundamentais para uma educação ambiental que facilite dar às pessoas poder para intervirem de forma consciente e conseente em seus espaços de vida.”

Uma ética para o novo milênio

Conversamos sobre a necessidade de, associado ao engajamento para reciclar os materiais, no momento de fazer qualquer compra, refletir sobre sua real necessidade, ter discernimento para recusar aquilo que percebemos não ser essencial, reduzir a quantidade daquilo que julgamos necessário, reutilizar de alguma forma aquilo de que já dispomos e retardar ao máximo sua disposição final e, finalmente, dar preferência para produtos e embalagens que possam ser reciclados, nos casos dos municípios que já dispõem de programas para reciclagem.


Cuidar dos corações humanos
“O problema dos erros de percepção, que, é claro, tem graus variados, costuma surgir por causa da nossa tendência de isolar aspectos particulares de um acontecimento ou experiência e vê-los como se constituíssem uma totalidade. Isso leva a um estreitamento da perspectiva e a falsas expectativas. Lembramos a citação feita pelo professor Joseph Cornell, autor do livro Vivências com a natureza 1, também recebido pelas Bibliotecas: ‘...Não se trata de cuidar dos rios, mas do coração humano.’ Para conseguirmos cuidar dos rios, precisamos cuidar do coração das pessoas, conhecer como é que elas sentem, de que elas precisam e como podem sentir-se felizes cuidando de si e dos outros. Só então poderão cuidar do ambiente externo, já que as nossas formas de interferir nele dependem de nossos estados mentais e, portanto, afetivos."

Vivenciando as palavras

“Além de conhecer muitas palavras, precisamos vivenciá-las, para que façam sentido para nós. Para isso, é necessário desenvolver a sensibilidade e dedicar um olhar amoroso sobre as coisas. A experiência da Neick de incentivar as pessoas a plantar flores me fez lembrar que o mundo é um enorme jardim, passível de tomar as mais belas formas, dependendo do olhar que temos sobre ele e dos nossos gestos de compreensão e de realização”.

Resgatando o sagrado de tudo

Todos os nossos problemas decorrem, de alguma forma, da falta de consideração ou de percepção da inexorável necessidade de pertencer aos ciclos da vida. Nossas viagens tinham este sentido: resgatar a sacralidade das coisas — mas não só das coisas: das relações, dos afetos que criamos ao nos encontrarmos. (...) Tudo o que fazemos é muito especial e importante e, quando compartilhado, é ampliado, é reencantado”.

Relatos especiais

“Muitas coisas aconteceram desde os nossos encontros. Algumas delas foram compartilhadas por carta, fax ou e-mail. Vamos aqui contar algumas. Todos os relatos que recebemos nos tocaram profundamente. Sentimos que seria muito importante que todos soubessem”.

“Quando a Jucineide, de Suzano, SP, contou que quando vai a algum lugar que tem árvore, costuma parar para ouvir o canto dos pássaros e para contar quantos tons de verde consegue ver, fiquei cheia de contentamento. Ela conta também que, quando se dedica a essa escuta, sente-se amorosa e em paz. Percebi que gestos tão simples podem nos reconectar interiormente e, ao mesmo tempo, reconectar uns aos outros”.

“Nossos encontros foram bastante mobilizadores. Depois da oficina, Neick, de Turmalina (MG), intensificou certas questões com as quais ela já trabalhava: ampliou o cuidado de trabalhar valores como paz, solidariedade, honestidade e respeito. E teve uma idéia muito bacana: nos encontros para contar a história Pote vazio ou a flor da honestidade, distribuiu sementes de flores orientando os participantes a plantar, a regar com água e carinho e depois a dar o retorno, contando-lhe dos seus jardins.. Que idéia bonita! Pois se a leitura nos ajuda a ler a realidade em que vivemos, nos ajuda a ter senso crítico e a sonhar, plantar flores em decorrência da leitura nos leva a transformar a realidade, a incluir o belo no cotidiano, a dar poesia ao ato de viver. A experiência da Neick de incentivar as pessoas a plantar flores me fez lembrar que o mundo é um enorme jardim, passível de tomar as mais belas formas, dependendo do olhar que temos sobre ele e dos nossos gestos de compreensão e de realização”.

“Neick utilizou a dinâmica da teia em diversos encontros que promoveu em sua cidade, para mostrar que dependemos uns dos outros. Essa dinâmica consiste em pedir aos participantes que façam uma lista de todos os elementos importantes de suas vidas. Conforme eles vão falando, vão fazendo conees entre eles e, para representar essas conees, vão passando um barbante, até formar uma teia bem intrincada. Se alguém puxar o barbante para um lado, todos vão sentir”.

Ela percebeu que caminhar é uma poderosa forma de ocupar espaço, expor idéias e comprovar vínculos, sobretudo quando caminhamos juntos. Caminhar dá vida às idéias e às mudanças pelas quais sonhamos. Então, Neick organizou Caminhadas pela Justiça e Paz em sua cidade, para mobilizar a comunidade quanto a ações necessárias e para agradecer ao Divino, durante a Festa do Divino, pelas Ações de Paz realizadas. Assim, crianças foram presenteadas com mudas de árvores frutíferas no dia de seu batizado e os pais se comprometeram a cuidar delas. Neick compartilhou sobre seu maior ganho com as Oficinas de Educação Ambiental: ‘Pequenas ações podem representar muito mais do que imaginamos para melhorar o planeta. Em razão disso, sou mais tolerante, menos ansiosa, mais realizada e mais feliz’”.

Neide, de Salvador (BA), também observou o quanto as pequenas atitudes influenciam e o quanto somos ligados uns aos outros. Quando vamos empreender alguma coisa, podemos ter a sensação de que aquilo que fazemos é pouco, mas, quando vamos compartilhar, aí é que percebemos a grandeza que existe em cada um de nós. O simples ato de querer viver com qualidade, modificando as escolhas para construir um modo de vida leve e alegre, já é transformador, pois irradia positividade, amorosidade, bem-estar e tranqüilidade. Esses são sentimentos tão necessários na vida moderna que exercem rápida influência naqueles que nos rodeiam. Como diz a Neide, são atitudes que mudam a mentalidade das pessoas”.

Fernanda, de Urbanos Santos (MA), fez a Teia da Vida com as crianças, pedindo que representassem animais e ligou-as por meio do barbante, de forma a perceberem a interdependência entre todos os seres vivos. Cícero, de Calçado (PE), enfatizou a importância da educação para a formação da consciência nas pessoas”.

Olha só a iniciativa da Cristina, de Barroso (MG): ela organizou um concurso para estimular as crianças à reflexão em torno da questão ambiental. Mobilizando a participação por meio das escolas, o concurso “Eu protejo minha terra” teve três categorias. Para mostrar os resultados do concurso, ela preparou uma publicação com os textos selecionados do III Concurso de Redação Ler é Preciso. Nem dá para avaliar quanta gente foi envolvida nesse processo do concurso, que teve um efeito realmente multiplicador!”

Quando nos encontramos para as Oficinas de Educação Ambiental em 2007, senti que muita coisa se modificou ou transformou, tanto em mim como nos participantes. A primeira delas é a percepção de que tudo isso gira em tornos dos afetos, do quanto ampliamos nossa capacidade de percepção e ação pelo simples fato de nos deixarmos atuar afetuosamente com os outros e com o ambiente

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