sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

MANIFESTO ECOSSOCIALISTA INTERNACIONAL

Marcos Barbosa de Oliveira, Pierre Rousset, David Barkin, Cristóbal Cervantes, Arran Gare, Laurent
Garrouste, Jean Marie Harribey , Howie Hawkins, Joel Kovel, Richard Lichtman, Peter Linebaugh,
Isabel Loureiro, Michael Löwy , Ariel Salleh, Walt Sheasby, Jose Tapía, Ahmet Tonak, Renan Vega,
Charles-André Udry, Victor Wallis.

MANIFESTO ECOSSOCIALISTA INTERNACIONAL

O século XXI se inicia com uma nota catastrófica, com
um grau sem precedentes de desastres ecológicos e
uma ordem mundial caótica, cercada por terror e focos
de guerras localizadas e desintegradoras, que se
espalham como uma gangrena pelos grandes troncos
do planeta África Central, Oriente Médio, América do
Sul e do Norte , ecoando por todas as nações.
Na nossa visão, as crises ecológicas e o colapso social
estão profundamente relacionados e deveriam ser
vistos como manifestações diferentes das mesmas
forças estruturais. As primeiras derivam, de uma
maneira geral, da industrialização massiva, que
ultrapassou a capacidade da Terra absorver e conter a
instabilidade ecológica. O segundo deriva da forma de
imperialismo conhecida como globalização, com seus
efeitos desintegradores sobre as sociedades que se
colocam em seu caminho. Ainda, essas forças
subjacentes são essencialmente diferentes aspectos do
mesmo movimento, devendo ser identificadas como a
dinâmica central que move o todo: a expansão do
sistema capitalista mundial.
Rejeitamos todo tipo de eufemismos ou propaganda
que suavizem a brutalidade do sistema: todo
mascaramento de seus custos ecológicos, toda
mistificação dos custos humanos sob os nomes de
democracia e direitos humanos. Ao contrário,
insistimos em enxergar o capital a partir daquilo que
ele realmente fez.
Agindo sobre a natureza e seu equilíbrio ecológico, o
sistema, com seu imperativo de expansão constante da
lucratividade, expõe ecossistemas a poluentes
desestabilizadores, fragmenta habitats que evoluíram
milhões de anos de modo a permitir o surgimento de
organismos, dilapida recursos, e reduz a vitalidade
sensual da natureza às frias trocas necessárias à
acumulação de capital.
Do lado da humanidade, com suas exigências de
autodeterminação, comunidade e existência plena
de sentido, o capital reduz a maioria das pessoas do
mundo a mero reservatório de mão-de-obra, ao
mesmo tempo em que descarta os considerados
inúteis. O capital invadiu e minou a integridade das
comunidades por meio de uma cultura de massas
global de consumismo e despolitização. Ele
expandiu as disparidades de riqueza e de poder em
níveis sem precedentes na história. Trabalhou lado a
lado com uma rede de Estados corruptos e
subservientes, cujas elites locais, poupando o
centro, executam o trabalho de repressão. O capital
também colocou em funcionamento, sob a
supervisão das potências ocidentais e da
superpotência norte-americana, uma rede de
organizações trans-estatais destinada a minar a
autonomia da periferia, atando-a as suas dívidas
enquanto mantém um enorme aparato militar que
força a obediência ao centro capitalista.
Nós entendemos que o atual sistema capitalista não
pode regular, muito menos superar, as crises que
deflagrou. Ele não pode resolver a crise ecológica
porque fazê-lo implica em colocar limites ao
processo de acumulação uma opção inaceitável
para um sistema baseado na regra "cresça ou
morra!". Tampouco ele pode resolver a crise posta
pelo terror ou outras formas de rebelião violenta,
porque fazê-lo significaria abandonar a lógica do
império, impondo limites inaceitáveis ao crescimento e
ao "estilo de vida" sustentado pelo império. Sua única
opção é recorrer à força bruta, incrementando a
alienação e semeando mais terrorismo e contraterrorismo,
gerando assim uma nova variante de
fascismo.
Em suma, o sistema capitalista mundial está
historicamente falido. Tornou-se um império incapaz
de se adaptar, cujo gigantismo expõe sua fraqueza
subjacente. O sistema capitalista mundial é, na
linguagem da ecologia, profundamente insustentável e,
para que haja futuro, deve ser fundamentalmente
transformado ou substituído.
É dessa forma que retornamos à dura escolha
apresentada por Rosa Luxemburgo: "Socialismo ou
Barbárie!", em que a face da última está impressa neste
século que se inicia na forma de eco-catástrofe, terror
e contra-terror e sua degeneração fascista.
Mas por que socialismo, por que reviver esta palavra
aparentemente consignada ao lixo da história pelos
equívocos de suas interpretações no século XX? Por
uma única razão: embora castigada e não realizada, a
noção de socialismo ainda permanece atual para a
superação do capital. Se o capital deve ser superado,
uma tarefa dada como urgente considerando a própria
sobrevivência da civilização, o resultado será
necessariamente "socialista", pois esse é o termo que
designa a passagem a uma sociedad pós-capitalista.
Diz-se que o capital é radicalmente insustentável e se
degenera em barbárie, delineada acima, então estamos
também dizendo que precisamos construir um
socialismo capaz de superar as crises que o capital
iniciou. E se os "socialismos" do passado falharam
nisso, é nosso dever, se escolhemos um fim outro que
não a barbárie, lutar por um socialismo que triunfe. Da
mesma forma que a barbárie mudou desde os tempos
em que Rosa Luxemburgo enunciou sua profética
alternativa, também o nome e a realidade do
"socialismo" devem ser adequados aos tempos atuais.
É por essas razões que escolhemos nomear nossa
interpretação de "socialismo" como um
ecossocialismo, e nos dedicar à sua realização.

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