terça-feira, 2 de novembro de 2010

Acordo em Nagoia

Alcançado em Nagoia acordo histórico para proteção da biodiversidade
29 de outubro de 2010 17h32

NAGOYA, Japão, 29 Out 2010 (AFP) -Países do Norte e do Sul adotaram, esta sexta-feira, em Nagoia (centro do Japão), um acordo inédito visando à proteção das espécies e dos ecossistemas do planeta e à divisão mais equilibrada dos benefícios dos recursos naturais.

Dez meses após a imensa decepção da cúpula de Copenhague sobre as Mudanças Climáticas, a conclusão positiva desta conferência deve dar fôlego aos processos de negociação ambientais na ONU.

"Se Kyoto entrou para História como a cidade onde o acordo sobre o clima nasceu, em 1997, Nagoia ficará conhecida como a cidade onde o acordo sobre a biodiversidade surgiu", afirmou Ahmed Djoghlaf, secretário-executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica (CBD).

Representantes de mais de 190 países, com a exceção notável dos Estados Unidos, que jamais ratificaram a CBD, lançada em 1992 durante a Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, adotaram um "plano estratégico" de 20 pontos com vistas a 2020, visando à contenção do ritmo alarmante de desaparecimento das espécies.

Também chegaram a um acordo sobre um protocolo, negociado há oito anos, sobre a distribuição dos ganhos obtidos pelas indústrias farmacêuticas e de cosméticos graças a recursos genéticos originários de várias espécies (animais, plantas, microorganismos), presentes nos países do sul.

O Brasil, que abriga a maior parte da imensa Bacia Amazônica, onde vive 10% da totalidade das espécies conhecidas no planeta, insistiu na necessidade de se chegar a um acordo para "acabar com a biopirataria".

"Com muita sabedoria, enormes esforços e lágrimas, nós conseguimos!", disse, muito emocionado, o ministro japonês do Meio Ambiente, Ryu Matsumoto, durante o término das negociações finais em plenário.

A secretária de Estado francesa da Ecologia, Chantal Jouanno, elogiou o "grande momento (...), um bom pontapé inicial para todos aqueles que acreditam no meio ambiente".

"O protocolo de Nagoia é um feito histórico", declarou Jim Leape, diretor-geral da ONG ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF). Outra organização, o Greenpeace, por sua vez, elogiou "o início do fim da biopirataria", mas lamentou que os governos não tenham sido "mais corajosos" sobre os objetivos.

O plano estratégico de 2020 fixa, em particular, como objetivo um aumento das áreas protegidas do planeta: 17% da superfície total das terras (contra os 13% atuais) e 10% para a superfície total dos oceanos (contra pouco menos de 1% atual).

Mas será que este plano, que não tem caráter legal restritivo, pode ter um real impacto na proteção das espécies através do mundo?

"Mesmo não sendo uma decisão legal restritiva, a mensagem enviada a todos os países é de que ''precisamos fazer mais''", declarou Russell Mittermeier, presidente da ONG americana Conservação Internacional.

"As áreas protegidas, quaisquer que sejam a sua natureza, são as melhores ferramentas de que dispomos hoje para proteger a diversidade dos seres vivos", acrescentou, elogiando um acordo ao qual chamou de "incontestavelmente histórico".

Inúmeros compromissos, no entanto, deixaram a porta aberta a interpretações amplas. Por exemplo, um dos objetivos defende a "eliminação" ou ao menos a "redução progressiva" das "subvenções nefastas" para a biodiversidade. Mas várias questões seguem sem resposta, como a influência real de incontáveis subsídios à pesca, na Europa principalmente, mesmo que a sobrepesca de inúmeras espécies esteja cientificamente documentada.

"Entre 70% e 80% das espécies de peixes que nós comemos" são pescadas além de sua capacidade de reprodução, relembrou o ator americano e ativista ambiental Harrison Ford, durante entrevista à AFP no início da semana.

Uma espécie de anfíbio em cada três, uma de pássaro em cada oito e uma de mamífero em cada cinco estão ameaçadas de extinção em nível mundial, segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza (UICN).

jca/cw/mvv

AFP

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