segunda-feira, 18 de março de 2013

METEOROLOGIA DEVE ANUNCIAR A CHUVA, MAS NÃO A TRAGÉDIA!


Mais um período de chuva acontece e a tragédia anunciada se repete. Todos os anos, com a aproximação do verão, o que se ouve são noticias recorrentes sobre danos materiais e perdas de vidas, causadas pelas intensas chuvas e intensificadas pela falta de política pública de ocupação e uso do solo adequados e seguros nas várias regiões e geografias do Brasil.
Os efeitos de um fenômeno natural - intensas chuvas sazonais - dado pela condição tropical do país nos mostram a inocuidade e a incapacidade assumida do planejamento urbano no Brasil. Enchentes, deslizamentos de encostas e doenças infecciosas denotam o quadro dessa fragilidade. Neste ano, com mais força no Sudeste, mais especificamente na região serrana do Estado do Rio de Janeiro.
Tais tragédias anunciadas são reforçadas por um histórico de negligência do poder público. O processo de ocupação urbana no Brasil se deu, na maioria das cidades, de maneira desordenada, levando grande parte da população pauperizada a construir suas casas em áreas denominadas de risco, ou seja, áreas suscetíveis e, cada vez mais, vulneráveis aos fenômenos climáticos repetidos e mais intensos. Dessa forma, entendemos que tais catástrofes são mais um problema de ordem econômica e política, do que estritamente ambiental, conforme se apregoa na mídia. A população que vive em áreas de riscos é, em sua grande maioria, constituída por famílias pobres desprovidas de condições de habitar em localidades seguras, privilegiadas por amenidades e com melhor infraestrutura.
Com o passar dos anos, os avanços da ciência, da tecnologia e da legislação urbana e ambiental já deveriam ter sido aplicados efetivamente, para dar o suporte necessário para a regularização dessas áreas. Tais processos evidenciam a falta e a fragilidade do planejamento nas cidades, onde o fluxo e o investimento em capitais e infraestrutura são menores. As prefeituras dessas cidades de menor porte se limitam a ações efêmeras e imediatistas frente às catástrofes.
Diante dos fatos, não podemos responsabilizar o clima, a geomorfologia e tampouco as pessoas que ocupam áreas de riscos. Devemos entender o processo de ocupação urbana das áreas de risco e entender as raízes da desigualdade social e espacial.
O poder público, nas suas variadas esferas, deve fazer cumprir a legislação e também preparar as equipes técnicas necessárias para o desenvolvimento de planos e execução de atividades que minimizem ao máximo o risco de uma catástrofe. Da mesma forma, é preciso empoderar, assessorar e incentivar a mobilização dos moradores e a participação comunitária na busca de soluções urbanísticas que garantam o bem-estar e o bem-morar. Enquanto não pensarmos a cidade de maneira mais justa e socialmente referenciada, continuaremos a rever tragédias ambientais anunciadas pela falta de planejamento.


Afinal, a Meteorologia deve anunciar a chuva, mas não a tragédia!


TRECHO EXTRAÍDO DO RELATO MANIFESTO DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS, SEÇÃO LOCAL JUIZ DE FORA, PUBLICADO EM JANEIRO DE 2012, INFELIZMENTE A HISTÓRIA SE REPETE, NA TRAGÉDIA E NA FARSA!



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