sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

sobre a solidariedade (fsm)

Oficina debate sobre a solidariedade na sociedade de classes


Atividade

Blog Brasil Autogestionário e Instituto de Desenvolvimento de Cidadania realizam oficina debate sobre a solidariedade na sociedade de classes

Organizado pelo Coletivo do Blog Brasil Autogestionário (www.brasilautogestionario.org) e Instituto de Desenvolvimento e Cidadania( IDESC), realizou-se na tarde do dia 26/01 no Território da Economia Solidária no Fórum Social Mundial em Canoas a oficina Solidariedade na Sociedade de Classes.

A atividade que reuniu um grande público teve como painelistas os professores Antonio David Cattani, Titular do Programa de Pós-Gradução em Sociologia da UFRGS e organizador do Dicionário Internacional da Outra Economia” e Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e um dos principais teóricos da Economia Solidária.

O objetivo da atividade foi discutir um tema central que representa um dos princípios e práticas do Outro mundo possível, que é a solidariedade, problematizando a contradição de um principio e valor da Economia Solidária que é absorvido pelo capitalismo.

O debate iniciou com o professor Cattani que discorreu sobre a apropriação do conceito de solidariedade pelas classes dominantes, que através da caridade com viés assistencialista, realizada por entidades patronais, inverte o sentido da solidariedade de classes, ao transforma-la em prática funcional ao sistema, ou seja, a solidariedade, ou “ação solidária” que busca a manutenção do sistema de reprodução da desigualdade.

Segundo Cattani para os capitalistas a “solidariedade é um negócio”, isto porque o capitalismo se manifesta como realização concreta, ou seja, organizar o trabalho, produzir mercadorias, dominar o Estado, mas ele se legitima, essencialmente, pelo discurso, pelos valores que propaga. São valores, portanto, que legitimam as práticas capitalistas. Dentre estes valores, dos últimos anos, duas noções aparecem com muita força: “ética econômica”, se falam em “empresas éticas”, e se fala de “empresas socialmente responsáveis”. Todas as grandes corporações estão discutindo estes pontos. Essas noções que são propagadas pelos meios de comunicação, nas escolas técnicas, nas escolas secundárias, nas universidades, sobre “ética Econômica”.

Em relação à ética capitalista que utiliza a solidariedade como estratégia de legitimação do processo de exploração intrínseco ao sistema, Cattani afirma que: Toda noção restrita, limitada e pessoal de ética, ela é uma redução é um empobrecimento de valores humanos. E é justamente disso que se fala em “ética econômica” Não é uma ética que vale para o conjunto da sociedade, mas sim atendendo interesses específicos de uma determinada empresa. No capitalismo a ética econômica deve ser entendida como um conjunto de princípios práticas e valores que parte da injustiça e que nela resulta.

O professor Paul Singer, em seu painel, aprofundou a análise sobre as práticas de solidariedade verdadeiras e aquelas orientadas por valores e interesses do capital, destacando a diversidade do chamado “Terceiro Setor” no Brasil. Conforme Singer “há uma enorme quantidade de ONGs. No ultimo censo de ONGs, de 2005, apontou que existem 335 mil ONGs no país. É um universo, é muito grande. Ninguém conseguiu ainda identificar totalmente.

Esse Universo das Não Governamentais por uma razão fundamental, ao meu ver é problemática pois, toda categoria que se desenvolve pela negação é alguma coisa extremamente heterogênea. Temos por isso, dentro do universo das ONGs provavelmente ONGs bandidas, criminosas falsas, até ONGs legítimas e que lutam até pela Economia Solidária a juventude, mulheres. Dentro do panorama da sociedade brasileira em que a injustiça não falta, existem ONGS que prestam efetivamente serviços variados. Uma parte dessas ONGs são financiadas por fundos de grandes empresas multinacionais.

A partir dessa realidade Singer discorreu sobre a solidariedade entre iguais, caracterizada pela ação coletiva dos explorados, cujo objetivo é a superação do status quo de opressão a partir de uma perspectiva emancipatória expressa na lutas dos movimentos sociais e nas iniciativas de auto-organização no campo político e econômico como a Economia Solidária.

Ao definir a Economia Solidária como essa prática de solidariedade verdadeira, na medida que é realizada entre iguais, Singer destacou o diferencial das relações entre os trabalhadores e trabalhadoras baseadas na solidariedade que surge fundamentalmente da necessidade, e se reforça a partir da ação coletiva da ajuda mútua.

É nas práticas dos Empreendimentos Econômicos Solidários que Singer identifica os elementos desta solidariedade verdadeira. “ Todos manifestam profunda felicidade , dizem “finalmente eu sou alguém, alguém que é ouvido, alguém que decide e que é respeitado. Não é só o ganho material, que é bom também, mas muitas vezes é esse resgate humano, onde na verdade a solidariedade é condição para que esse resgate humano possa acontecer“, salienta Singer.

Para Singer os Empreendimentos de Economia Solidária guardam semelhanças, em sua prática diária, com uma família: Eu costumo fazer esse paralelo, os Empreendimentos Econômicos Solidários são muito semelhante a uma família. Há muita solidariedade, muita generosidade. Há muita “mãe” dentro dos EES, que podem ser homens ou mulheres a cumprir esse papel.

Perguntado por uma das participantes como é possível multiplicar os valores da solidariedade transformadora, Singer respondeu:E é assim que a gente consegue, não através da propaganda, através da publicidade mas através de uma troca de sentimentos, conhecimentos e intenções entre iguais”.


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