Livro do cientista Marcelo Gleiser diz que a física foi iludida pela estética da simetria e tomou o caminho errado
RAFAEL GARCIA – DA REPORTAGEM LOCAL – FSP
A tentativa da física de explicar toda a natureza com um único conjunto de regras é a encarnação científica do monoteísmo. Essa é a tese que o físico Marcelo Gleiser – professor do Dartmouth College, de New Hampshire (EUA), e colunista da Folha- defende agora.
Em seu novo livro, “A Criação Imperfeita” (Ed. Record), ele explica por que acredita que fenômenos físicos em desequilíbrio revelam mais coisas sobre a origem do Universo do que as leis simétricas que sábios constroem para descrever o mundo desde a Grécia Antiga. Invertendo a máxima do poeta Vinicius de Moraes, Gleiser diz que “beleza não é fundamental” e que a elegante matemática que vem sendo usada para unificar a física não consegue ser mais do que metafísica.
O principal ataque do brasileiro é contra as teorias que tentam unir a relatividade de Einstein com a física quântica. Essa empreitada, considerada hoje o Santo Graal da ciência, uniria todas as forças da natureza (gravidade, eletromagnetismo e as forças nucleares) numa única explicação. O esforço para tal reúne desde físicos de partículas até cosmólogos.
Contudo, a chamada teoria das supercordas -a principal candidata ao cálice sagrado- existe há décadas sem conseguir propor um experimento que possa testá-la. No livro, Gleiser explica por que acha que os físicos estão apostando fichas demais numa linha de pesquisa ao assumir de antemão que há uma essência única subjacente a toda a realidade.
A criatividade na ciência, é claro, depende de uma certa liberdade de especulação, mas Gleiser nega estar tolhendo isso. Seu argumento é mais uma espécie de reverência à criatividade da natureza. Com seu talento narrativo, ele conta como gregos, renascentistas e físicos quânticos foram driblados pela realidade, uma vez após outra, sempre que acreditavam estar perto da “teoria final” capaz de explicar a essência de tudo.
“Ninguém testemunhou o que estava para acontecer.
O “tempo” não existia;
A realidade existia fora do tempo, pura permanência.
O espaço não existia.
A distância entre dois pontos era imensurável.
Os pontos podiam estar aqui ou ali, suspensos, saltitantes.
Entrelaçado em si próprio,
o espaço aprisionava o infinito.
De repente, um tremor;
uma vibração,
uma ordem que nascia.
O espaço pulsava, ondulando sobre o nada.
O que era perto se afastou. O agora virou passado.
O espaço nasceu com o tempo.
Ao falarmos em espaço, pensamos em conteúdo.
Ao falarmos em tempo, pensamos em transformação.
E assim foi.
O espaço borbulhou; o tempo, incerto, iniciou sua marcha.
Da agitação conjunta do espaço e do tempo surgiu a matéria,
expelida de seus poros.
Mas atenção!
Essa não era uma matéria ordinária feito a nossa.
Ela fez o espaço crescer,
inflar, como um balão.
Esse balão é o nosso Universo” “A Criação Imperfeita“, de Marcelo GleiserGleiser foi entrevistado recentemente pelo jornalista Roberto D'Avila e disse coisas muito importantes:
"A natureza é a grande causa."
"Não importa saber tudo, o importante é querer saber mais."
"A ciência é uma forma da gente encarar o mundo."
"Nas artes tudo mudou (...) criou-se uma nova estética do imperfeito que também é o belo, tá na hora de olhar para a assimetria como uma manifestação da natureza também."
Sobre o final do mundo em 2012: "...Eu estou pensando seriamente em escrever um livro falando que isso tudo é uma grande besteira..."
"Tem muito oportunista no mundo..."
"Está surgindo uma nova espiritualidade no mundo...ligada à natureza e à salvação do planeta."
"Eu sempre fui um cara que gostava de ler."
"A lição mais importante que a gente pode passar para os nossos filhos é a persistência... A perseverança é fundamental."
"Ser capaz de ouvir e ser capaz de se emocionar com a condição humana."
"Uma coisa que a gente vai ver é o crescimento da biologia no século 21."
"A gente vai se reinventar como espécie."
"A estrela mais próxima da Terra é Alpha Centauro que está há 4 anos-luz da Terra."
"Nós estamos aqui sozinhos e nós somos a consciência do cosmo..."
"Detesto fundamentalismo..."
"Moralmente a gente ainda tá nas cavernas (...) somos propfundamente primitivos, nos ainda nos matamos..."
"A terra pode ficar feliz sem a gente, mas a gente não pode ser feliz sem a Terra."
Opinião do blog Cidadania Planetária:
Pela maravilha de entrevista e pelo que ficamos sabendo sobre o livro, parece ótimo. Já foi traduzido para várias línguas e está dando o que falar nos meios científicos do mundoo, vamos lê-lo.
há muito não assistia um programa de entrevista com tanto conhecimento em forma de beleza de narrativa e palavras claras, fiquei emocionada com a inteligência desse cientista, obrigada D`Ávila pela qualidade do programa.
ResponderExcluirNilza Vilarim Aquino
Por favor, gostaria de obter uma cópia da entrevista que deu no programa Roberto D'Ávila em maio (dias 2 e 9). COmo posso conseguir?
ResponderExcluirMeu e-mail é malupve@yahoo.com.br
Obrigada!
Maria Lúcia.